Frio mata milhares de peixes nos EUA, Brasil e Nova Zelândia

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As baixas temperaturas das águas podem ser a explicação das mortalidades de peixes Foto: Paulo Ricca/arquivo

O frio especialmente intenso estará a causar a morte a milhares de peixes nos Estados Unidos, Brasil e Nova Zelândia. No Reino Unido, 40 mil caranguejos mortos cobrem as praias de Kent.

Há quem pergunte se a vida selvagem está amaldiçoada, outros se este é o início do apocalipse. O que é verdade é que os casos recentemente divulgados de mortalidade de aves e peixes ganharam a atenção da opinião pública global. Depois das aves nos Estados Unidos e Suécia, as atenções voltam-se agora para os milhares de peixes que aparecem mortos em vários países. O frio, neste Inverno especialmente rigoroso, será a explicação.

Segundo Henrique Cabral, investigador do Centro de Oceanografia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, o frio e um choque térmico baixam o metabolismo dos peixes e podem congelar os fluídos internos e a massa muscular. O especialista disse ao PÚBLICO que estes são "fenómenos relativamente naturais e não têm proporções muito significativas". No mar, além de não se registarem grandes oscilações de temperatura, os animais têm grande mobilidade e podem fugir para águas mais amenas. Os peixes mais afectados são os que vivem em lagos, rios ou no mar a pequenas profundidades.

Foi o que aconteceu no Arkansas. Ao mesmo tempo que apareciam cerca de cinco mil aves mortas em Beebe, no Arkansas, o mesmo estado norte-americano via-se em mãos com cem mil peixes mortos num rio perto de Beebe. Dias depois, a 4 de Janeiro, dois milhões de peixes apareceram mortos em Chesapeake, Maryland, depois de o caso ter sido denunciado na semana passada. As autoridades do Departamento de Ambiente de Maryland estão a investigar as causas mas suspeitam das baixas temperaturas, avança o jornal “Baltimore Sun”. Aquele departamento revelou ontem, em comunicado, que os resultados preliminares mostram que a “qualidade da água parece ser aceitável”. “Uma diminuição brusca das temperaturas da água, aparentemente, causou a morte dos peixes”, segundo o departamento. As temperaturas da água chegaram aos 0,5ºC no Dezembro mais frio na região nos últimos 25 anos. Mas estas mortalidades no Inverno já aconteceram no passado, nomeadamente em Janeiro de 1976, quando morreram 15 milhões de peixes.

No Brasil, cem toneladas de peixes mortos já foram encontradas, desde 30 de Dezembro, em Paranaguá, no litoral do Paraná. A maior parte são sardinhas e bagres. Segundo o jornal “Folha de São Paulo”, investigadores do Instituto Ambiental do Paraná recolheram amostras dos peixes e, nos próximos dias, deverão anunciar as causas deste episódio. Mas o Centro de Estudos do Mar (CEM) da Universidade Federal do Paraná acredita que as mortes podem ser explicadas pelo possível aumento na concentração de algas que produzem toxinas (causado por mudanças de temperatura), por um derrame de produtos químicos ou por doenças.

Na Nova Zelândia, as autoridades estão a investigar a morte de centenas de peixes nas praias da Península Coromandel. Os animais foram encontrados a 4 de Janeiro por banhistas. James Hughes, que estava de visita a uns amigos, contou ao “New Zealand Herald” que os seus filhos chegaram com peixes na mão, dizendo que os tinham encontrado no areal e a flutuar no mar. Um técnico do Departamento de Conservação neozelandês informou que os peixes estavam a morrer de fome por causa das condições meteorológicas.

O mau tempo na Nova Zelândia foi motivo de notícia a 23 de Dezembro, quando o Departamento de Conservação revelou que centenas, se não milhares, de pinguins e outras aves marinhas não estão a conseguir alimentar as suas crias e morrem à fome na costa daquele país. A falta de peixe deve-se a alterações nos padrões climáticos, causadas pelo fenómeno La Niña.

O investigador Henrique Cabral não tem registo de casos de mortalidade de peixes em Portugal devido ao frio, nem mesmo nas lagoas de montanha.

Além dos peixes e das aves, há agora o anúncio de 40 mil caranguejos mortos que apareceram nos areais da costa britânica de Kent. A razão apontada é o tempo especialmente frio, o que causou hipotermia. Este é o terceiro ano em que tal acontece. A Agência de Ambiente britânica está a investigar a situação e avança que as condições meteorológicas são a explicação, segundo a BBC. O Met Office, o instituto de meteorologia britânico, revelou ontem que o mês passado foi o Dezembro mais frio no Reino Unido desde que há registos.

Notícia actualizada às 14h25
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