Sindicatos situam adesão entre 85 e 90%, Governo reduz para 20,1%

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A greve geral decorre hoje Foto: Nuno Ferreira Santos

A greve geral de hoje está a contar com uma adesão de 85 a 90 por cento dos trabalhadores da Administração Pública central, revela a Federação Nacional dos Sindicatos da Função Pública (FNSFP), enquanto o Governo afirma que a participação se cifra nos 20,1 por cento.

De acordo com a FNSFP, os sectores da saúde, da educação e da segurança social estão a registar uma adesão à greve elevada, que ronda os 90 por cento.

Depois de ter avançado um valor inicial de uma adesão de 19,4 por cento, o secretário de Estado da Administração Pública, Gonçalo Castilho dos Santos, avançou, entretanto, que os dados reunidos até às 13h00 dizem que “a maioria dos trabalhadores está a trabalhar, bem como a larga maioria dos serviços públicos estão abertos ao atendimento”. Segundo o governante, até às 13h00, “o número de adesão à greve está na casa dos 78 mil trabalhadores, o que corresponde a 20,1 por cento do universo dos trabalhadores da Administração Pública, directa e indirecta, que são 390 mil trabalhadores”.

Em relação aos 7537 serviços descentralizados do Estado, que asseguram o atendimento e estão próximos das populações - incluem as quase 5200 escolas, 920 conservatórias, tribunais, entre outros -, “neste momento 1367 estão encerrados”, adiantou o secretário de Estado, ou seja, 18,1 por cento.

“Estes dados, no fundo, documentam que a maioria dos serviços, a maioria dos trabalhadores ou estão abertos ou não aderiram à greve até ao momento, pelo menos. Estes dados apresentam já um dado de consolidação bastante avançado”, acrescentou.

A Federação estima que, no Serviço Nacional de Saúde (SNS), grande parte dos principais hospitais do país estejam a funcionar apenas com os serviços mínimos. O Governo indica que neste sector a taxa de adesão terá sido de 38 por cento esta manhã.

Quanto às escolas públicas, a maioria está encerrada, devido sobretudo à adesão à greve geral por parte do pessoal não docente, que ronda os 90 por cento, segundo a Federação Nacional dos Sindicatos da Função Pública. Castilho dos Santos anunciou que nas contas do ministério essa adesão é de 13 por cento.

O secretário de Estado indicou ainda que no Ministério do Trabalho, que inclui os trabalhadores da Segurança Social e do Instituto de Emprego e Formação Profissional, a participação foi de 20 por cento nas primeiras doze horas de greve. A FNSFP diz que praticamente todos os serviços de atendimento público da Segurança Social da área da Grande Lisboa e do Grande Porto estão encerrados, estimando uma adesão de 90 por cento. Nos restantes serviços da Segurança Social, a adesão situar-se-á entre 80 a 90 por cento, aponta a Federação. O Centro Nacional de Pensões, por exemplo, está “completamente parado”, revela.

De acordo com a FNSFP, “a disposição manifestada pelos trabalhadores da Administração Pública para aderirem à greve geral é o resultado do sistemático ataque contra os seus direitos e as funções sociais do Estado, com o roubo dos salários e da degradação do poder de compra, o aumento da instabilidade e da precariedade no emprego, a destruição dos seus direitos sociais, o encerramento ou a degradação das condições de funcionamento dos serviços essenciais às populações”.

A Federação diz ainda que “estão criadas as condições para dar continuidade a esta luta, com a concretização de novas acções, tendo por objectivos fundamentais o corte nos salários, a salvaguarda da estabilidade de emprego, contra a precariedade e a defesa do modelo constitucional da administração pública”.

Saúde

No primeiro balanço do dia, a Secretaria Geral do Ministério da Saúde calcula que a adesão à greve rondou os 50 por cento, entre as 00H00 e as 10H00. Apresentaram-se ao serviço 1472 dos 2972 funcionários escalados para o período nocturno e início da manhã.


Os dados da adesão à greve, centralizados nesta estrutura, são sobretudo de hospitais. Em algumas unidades, a adesão à greve ultrapassou a média, como foi o caso do Centro Hospitalar de Lisboa Central (S.José, Santa Marta, Dona Estefânia, Santo António dos Capuchos), onde 294 dos 404 profissionais previstos faltaram, no Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental (S. Francisco Xavier, Santa Cruz e Egas Moniz) , com 87 dos 124 esclados não apareceram, e do Centro Hospitalar do Porto (Hospital de Santo António , Maternidade Júlio Dinis e Maria Pia), onde faltaram 102 dos 169 funcionários escalados. No Instituto Português de Oncologia (IPO) de Lisboa aderiram à paralisação 100 dos 185 trabalhadores previstos e, no IPO do Porto, 47 dos 78 escalados faltaram. Também no Hospital de S. João, no Porto, não apareceram mais de metade dos trabalhadores previstos.

O caso mais extremo é o do Hospital de Tondela onde, a crer nos números da Secretaria Geral do Ministério da Saúde, apenas se apresentou ao serviço um dos nove profissionais escalados. Mesmo assim, a unidade não fechou.

Níveis de adesão mais reduzidos foram registados na Unidade Local de Saúde de Matosinhos (faltaram 52 dos 141 trabalhadores previstos).

No período das 10h00 às 16h00, o único centro hospitalar a adiantar dados – o de Lisboa Ocidental - previa uma adesão à greve muito superior, com a ausência de 280 dos 372 trabalhadores escalados.

Transportes

Na aviação, a adesão em massa dos controladores aéreos impediu realização de ligações, à excepção de um voo regular para a Terceira, nos Açores, e de voos de emergência médica.


Apesar de algumas empresas do sector da aviação não estarem a verificar uma mobilização expressiva dos trabalhadores para a greve de hoje, o facto de os controladores aéreos da NAV, que gerem os aviões que entram e saem dos céus portugueses, registarem uma adesão a 100 por cento está a impedir a realização da maioria dos voos previstos.

Durante o período da manhã, havia 164 ligações programadas pela gestora aeroportuária ANA, mas apenas uma se realizou – um voo da TAP para a ilha Terceira, nos Açores. Há ainda registo de, pelo menos, três voos de emergência médica, um dos quais partiu do aeroporto Francisco Sá Carneiro, no Porto.

De acordo com a Comissão de Trabalhadores da NAV, 100 por cento dos trabalhadores terão aderido à paralisação. Uma taxa que foi confirmada pela própria empresa. “A adesão dos trabalhadores que asseguram os serviços de navegação aérea é de 100 por cento”, referiu fonte oficial da NAV, acrescentando que só estão a ser realizados os serviços mínimos, ou seja, parte dos voos para a Madeira e os Açores e ainda ligações interilhas.

Prevê-se que a vaga de cancelamentos se mantenha no período da tarde. Num dia normal, passariam 550 ligações pelos aeroportos portugueses. A grande maioria não irá realizar-se.

A Sociedade de Transportes Colectivos do Porto (STCP) informou ao meio-dia que durante o período da manhã ao nível do pessoal tripulante a taxa de adesão era de 68 por cento, com 32 por cento de serviços garantidos. Durante a tarde, a STCP actualizará os dados relativos à greve geral.

Num dia normal, a CP deveria ter realizado 532 comboios até às 10h00 da manhã de hoje, mas só fez 108, tendo sido suprimidos 424 por motivo de greve. Os serviços mínimos previam a realização de 126 comboios comboios, mas não se efectuaram 18 por falta de tripulação que, apesar de nomeada para trabalhar ao abrigo dos serviços mínimos, acabou por não comparecer. A taxa de execução dos serviços mínimos na CP, foi, assim, de 64 por cento.

Educação

A adesão dos professores à greve geral de hoje é a maior de sempre numa paralisação não sectorial, assegura o secretário-geral da Federação Nacional dos Professores (Fenprof), Mário Nogueira. "Há cidades inteiras sem aulas”, diz Mário Nogueira.


A Fenprof não tem ainda números da adesão à greve dos docentes, mas Mário Nogueira garantiu que, em vários pontos do país, alcançou os 80 a 90 por cento. Ainda não há números oficiais sobre a paralisação avançados pelo Ministério da Educação.

Justiça

Muitos tribunais do norte do país, o tribunal de Cascais e os serviços do Ministério Público do Tribunal de Oeiras estão encerrados ao público, registando uma adesão de cem por cento dos oficiais de justiça, disse esta manhã ao PÚBLICO o presidente do Sindicato dos Funcionários Judiciais, Fernando Jorge. O secretário de Estado da Administração Pública precisou que neste sector a adesão é de 39 por cento.

Autores: Abel Coentrão, Alexandra Campos, Ana Rita Faria, Carlos Cipriano, Cláudia Bancaleiro, Paula Torres de Carvalho, Pedro Andrade Soares, Raquel Almeida CorreiaNotícia actualizada às 15h33
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