Bush insiste na defesa da guerra no Iraque e do uso de waterboarding

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Capa do livro de memórias de Bush DR

O ex-Presidente norte-americano George W. Bush reiterou firmemente como válida a decisão de ter levado os Estados Unidos para a guerra no Iraque em 2003 e como “legais” algumas das mais controversas técnicas de tortura de suspeitos de terrorismo, numa série de entrevistas ontem à noite a propósito do lançamento (hoje) do seu livro de memórias “Decision Points”.

A muito polémica técnica de waterboarding – simulação de afogamento – usada durante os interrogatórios de vários presos de Guantánamo evitou ataques terroristas e salvou vidas, argumentou Bush no canal NBC, precisando que os seus conselheiros legais na Casa Branca lhe garantiram ser legal.

“Disseram-me que não estava configurada na lei anti-tortura. Eu não sou advogado. E há que confiar no julgamento feito pelas pessoas que estão à nossa volta, o que fiz”, explicou. E prosseguiu: “Digo-vos com toda a certeza que o recurso àquelas técnicas salvou vidas. O meu trabalho era proteger a América e fi-lo”.

O governo britânico apressou-se a corrigir Bush com um porta-voz de Downing Street a sublinhar que waterboarding “é tortura”.

Bush – que foi entrevistado igualmente pela Fox News, nesta primeira sequência de declarações públicas feitas desde que deixou a Casa Branca em Janeiro de 2009 – manteve igualmente pé firme na ideia de que avançar para a guerra no Iraque “não foi errado”. “Pedir desculpa seria como admitir que foi uma má decisão e eu não acredito que tenha sido uma decisão errada”, afirmou ao ser questionado na NBC se alguma vez ponderou em pedir desculpa ao povo norte-americano.

Quanto à sensação de “estômago às voltas” que diz, na autobiografia, ainda hoje sentir cada vez que pensa no falhanço em não terem sido encontradas as alegadas armas de destruição maciça no Iraque – que justificaram a intervenção militar dos Estados Unidos – Bush acha que não lhe foi ainda reconhecido o mérito que teve em estancar os perigos que o país representava. “Espero que o futuro venha a julgar [a minha presidência] um sucesso. Mas já vou estar morto nessa altura, quando finalmente a História decidir o que foi”.

O ditador homicida e o Darth Vader

“Decison Points”, de que foram conhecidos muitos excertos já há uma semana, conta em detalhe, e com muitos episódios anedóticos, a visão de Bush dos oito anos que passou na Casa Branca (2001-2009), percorrendo a pente fino uma era de governação dos Estados Unidos que abre com os ataques terroristas de 11 de Setembro e vai até ao colapso financeiro do país que se repercutiu mundo fora.


Nele o ex-presidente, de 64 anos, afirma que “ninguém ficou mais chocado” do que ele próprio quando não foram encontradas armas de destruição maciça no Iraque: “Sentia-me doente cada vez que pensava nisso. E ainda sinto, fico com o estômago às voltas”. Mas, mesmo assim, Bush defende que a invasão do Iraque fez com que os iraquianos ficassem melhor sem o antigo líder Saddam Hussein, ao qual se refere como um “ditador homicida”, e que também os Estados Unidos ficaram melhor sem o ex-presidente iraquiano a tentar obter armas químicas e biológicas.

O livro revela ainda que Bush chegou a considerar substituir o seu número dois, Dick Cheney, que se tinha tornado “num íman para as críticas vindas dos media e da esquerda, apesar de ter ajudado com partes muito importantes da governação”.“[Afastá-lo] provaria que era eu quem mandava”, racionaliza Bush em "Decision Points". Mas, no final, decidiu manter a seu lado o homem que diz era visto como “sombrio e sem coração, o Darth Vader da Administração”, por reconhecer valor na sua “mão firme”.

notícia actulizada às 17h21
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