Cientista português cria “mini-fígados” no laboratório

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A equipa provou que é possível criar células hepáticas funcionais Carla Carvalho Tomás (arquivo)

É apenas um primeiro passo, mas é uma estreia. Pela primeira vez, uma equipa de cientistas gerou, a partir de células hepáticas humanas, minúsculos “fígados” que, pelo menos in vitro, funcionam devidamente. Os resultados, apresentados há dias num congresso, deverão ser publicados numa próxima edição da revista Hepatology.

A escassez de fígados para transplante é notória – e o objectivo do trabalho é obviamente conseguir fabricar órgãos artificiais capazes de desempenhar a mesma tarefa que os naturais. Uma outra potencialidade ainda seria utilizar estes órgãos gerados em pratinhos de vidro para avaliar a toxicidade hepática de novos medicamentos.

Só que até aqui, ninguém sabia sequer se era possível fazer crescer conjuntos de células hepáticas funcionais. A equipa que acaba de mostrar que é efectivamente possível – do Instituto de Medicina Regenerativa do Centro Médico Baptista da Universidade de Wake Forest, em Winston-Salem, na Carolina do Norte – é liderada por Pedro Baptista, jovem investigador português há vários anos a trabalhar nos EUA.

Para fabricar os mini-fígados, os cientistas utilizaram fígados de animais, que trataram previamente com um detergente pouco potente de forma a retirar todas as células animais iniciais, deixando intactos apenas o “esqueleto” de colagénio (que confere ao órgão a sua estrutura) e o sistema vascular, explica um comunicado daquela Universidade.

A seguir, introduziram nesta “ossatura”, via um grande vaso sanguíneo que alimenta uma rede de vasos mais pequenos, dois tipos de células hepáticas humanas: células progenitoras de células hepáticas e células endoteliais, que formam as paredes dos vasos sanguíneos. Colocaram o objecto num bioreactor, alimentando-o em permanência com um fluxo de nutrientes e oxigénio Uma semana mais tarde, puderam observar a formação de tecido hepático humano e o aparecimento de funções associadas.

Por enquanto, os mini-fígados são mesmo mini: têm 2,5 centímetros de diâmetro e pesam menos de seis gramas. Para serem utilizáveis, deveriam pesar pelo menos meio quilo – e um dos desafios será agora o do tamanho. Para além disso, há a questão de saber se um órgão destes ainda funciona quando introduzido no organismo de um animal de laboratório vivo e a de garantir que a sua utilização em humanos não apresenta riscos para a saúde. “O que esperamos”, diz Pedro Baptista, citado no mesmo comunicado, “é que, uma vez transplantados, estes órgãos conservem a suas funções iniciais e vão ganhando outras à medida que se desenvolvem.”

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