ETA declara cessar-fogo

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Captura de imagem do vídeo produzido pela ETA DR

O grupo terrorista basco ETA anunciou que não levará a cabo mais "acções armadas" na sua campanha pela independência, em declarações exclusivas à BBC.

Membros do grupo afirmam, num registo em vídeo, que esta decisão foi tomada há meses, "para pôr em marcha um processo democrático".

A organização separatista já antes declarou por duas vezes tréguas, ambas abandonadas. Não é de resto claro, avança a BBC, se esta declaração agora feita é de um fim das acções armadas a termo temporário ou definitivo.

Este vídeo surge numa altura em que a ETA está sob enorme pressão, tendo sido presos vários líderes do grupo separatista a par de uma cada vez mais clara tomada de posição por parte dos partidos políticos bascos pressionando a organização a declarar cessar-fogo.

Enquanto o vídeo está a ser analisado pelo ministério do Interior, e pela presidência do Governo espanhol, o diário "El Mundo" dava conta do "profundo cepticismo" de José Luís Rodriguez Zapatero.

O chefe do executivo espanhol terá comentado que o gesto da ETA parece insuficiente. "A ETA deve saber que não está em condições de propor condições", afirmaram fontes próximas de Zapatero. "Tudo o que se espera dela é o abandono definitivo às armas."

"Insuficiente", "ambígua" e "enganadora" foram as palavras escolhidas pelo governo autónomo basco para descrever a declaração de tréguas da ETA. Não é um compromisso claro de pôr fim em definitivo à violência, avaliou o responsável pela pasta do Interior da região.

O ministro espanhol do Interior, Alfredo Pérez Rubalcaba, contactara antes os grupos políticos e o Governo basco, para falar do alcance e da resposta ao comunicado da organização separatista basca, segundo fontes do ministério ao "El País".

Fontes do Governo espanhol tinham expressado ao diário "El País", numa primeira reacção ao comunicado, que se trata de "um passo mais da ETA", mas que aquilo que o grupo terrorista tem que fazer é entregar definitivamente as armas.

Uma opinião semelhante foi manifestada por fontes da luta antiterrorista no país, que disseram ao mesmo jornal, também sob anonimato, que este passo fica aquém do que era esperado por parte da organização separatista: "Não anunciam nem a entrega das armas nem o fim da violência; não é suficiente".

As autoridades em Espanha já deixaram muitas vezes claro que só depois da renúncia à violência por parte da ETA é possível abrir a porta a negociações.

O director-adjunto do jornal em língua basca Gara - que disponibilizou na sua edição online o vídeo da ETA na íntegra - expressou entusiasmo. "Acho que é um grande passo e um passo positivo. Acho que é algo que a maioria da sociedade basca estava à espera ou em que tinha esperanças e, nesse sentido, creio que é algo que ninguém pode dizer ser negativo", avaliou à BBC. Njaki Soto sublinhou, porém, que está "um longo caminho pela frente", mesmo se a declaração de cessar-fogo "é algo que pode trazer a paz e a justiça ao País Basco"

A campanha violenta da ETA pela independência do País Basco causou a morte de mais de 820 pessoas ao longo das últimas quatro décadas.

Notícia actualizada às 17h45
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