Passos Coelho prepara ataque aos "vendedores de ilusões"

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Novo líder do PSD promete duras críticas ao Governo Daniel Rocha

Desde 2003 que o lançamento do ano político do PSD, a chamada rentrée, é oficialmente assinalado na Universidade de Verão do partido, que acontece mais para o fim do grande período das férias. Este ano, Passos Coelho resolveu fazer a abertura política 2010/2011 em dois palcos. Hoje, no Pontal, e a 5 de Setembro, na "universidade", que decorre em Castelo de Vide. No Algarve, são esperadas mais de três mil pessoas com lugar marcado para o jantar no calçadão de Quarteira.

Miguel Relvas, secretário-geral do PSD, admitiu ao PÚBLICO que a intervenção de Passos Coelho "será dura para o Governo", mas recusou-se a adiantar mais detalhes. As polémicas na justiça, a crise financeira, o facto de o executivo não estar a cortar na despesa e as políticas sociais deverão ser, porém, temas centrais no discurso do líder do PSD.

Discurso de consolidação

"Será um discurso de consolidação da alternativa credível a este Governo. Um discurso de verdade e também de esperança de que é possível vencer esta crise com sucesso, com propostas alternativas e não vendendo ilusões. O país não suportará uma segunda desilusão, um segundo falhanço. E os portugueses já sabem que nós somos muito diferentes do PS", adiantou Miguel Relvas. "Portugal está farto de vendedores de ilusões", acrescenta o número dois dos sociais-democratas, dando como exemplo as "palavras de euforia" ontem manifestadas pelo primeiro-ministro face aos números divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística sobre a economia portuguesa e que o PSD considera serem negativos.

Estar com as pessoas

Sobre a presença de Passos Coelho na festa do Pontal, mal amada pela anterior líder que nunca esteve presente, Relvas diz que é "o PSD a voltar às ruas". "Passos Coelho é um homem que gosta de estar com as pessoas, de se aproximar delas, que é igual a todos", acrescenta. E até dá como exemplo o facto de o líder, "à imagem de muitos portugueses", ter alugado uma casa no Algarve para passar férias com a família. "Não se foi isolar para um empreendimento de luxo, como fez o primeiro-ministro", acrescentou.

Passos Coelho falará de improviso pelas 22h30, já depois de "bater" em cumprimentos as muitas mesas de militantes anónimos e notáveis presentes. Mendes Bota recusa dizer quem estará no Pontal ("nomes antes da festa nunca"), mas assegurou ao PÚBLICO que "as mesas vão estar muito bem recheadas": "Ao longo da semana, houve vários pedidos de reforço de bilhetes e há muitos anos que não via o interesse de pessoas muito representativas em estarem presentes."

Mendes Bota fala do Pontal, que se realiza desde 1976, com entusiasmo. Diz mesmo que, "apesar de algumas incompreensões", lembrando as ausências de Manuela Ferreira Leite, "a festa algarvia foi sempre uma grande referência na vida do partido". "É o único momento em que sociais-democratas de todo o país e muitos que vivem no estrangeiro se encontram. É a festa da unidade, com uma força que reside na aliança entre a sua intelligentsia e a capacidade de mobilização popular", afirma. E lembra que "a rua não é um exclusivo da esquerda": "o PSD não pode viver fechado entre quatro paredes a discutir o sexo dos anjos, ou mesmo coisas importantes, e esquecer o povo, a agitação, as bandeiras no ar e os corações em terra."

Mendes Bota vê no Pontal deste ano "algumas similitudes" com a festa de 1985. "Nessa altura, o PSD vinha do coma a seguir ao Bloco Central. Teve o congresso que elegeu Cavaco Silva líder, este esteve presente no Pontal e, depois, foi a eleições e ganhou", sublinha. Hoje, "as pessoas são outras, a situação é diferente", mas Bota recorda que o PSD vem igualmente de um congresso que elegeu um novo líder "e que passa por um momento em que se fala em eleições antecipadas": "as situações em 1985 e 2010 não são decalcáveis, mas o Pontal pode voltar a ser uma catapulta para o poder. O lançamento deste ano político é decisivo para o PSD e para o país."

Para ter lugar sentado na festa, cada um dos presentes desembolsará 12 euros, com direito a um serão musical a cargo do grupo José Praia e os Aquaviva e a um repasto com a seguinte ementa: azeitonas, cenouras, croquetes, rissóis, pão, caldo verde, carne de vaca estufada com arroz, bacalhau com natas e salada mista, pudim à Pontal, fruta, bebidas e café. Para o fim, ficam os discursos de Passos Coelho e Mendes Bota.

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