Mudanças de espiões e dirigentes causam mal-estar em serviço das "secretas"

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As alterações no SIS têm causado mal-estar Hélder Olino

É uma história com espiões, mas tem tudo menos o glamour dos livros de Ian Fleming do Agente 007. Pelo contrário. Os serviços de informações portugueses cresceram nos últimos anos. Aproximadamente 20 por cento, entre 2004 e 2009 em número de funcionários, resultado do investimento pós-11 de Setembro. Os quadros e a importância das "secretas" aumentaram. Como aumentou a tensão interna com algumas nomeações, em especial no Serviço de Informações Estratégicas de Defesa (SIED), o serviço "externo", onde voltou um clima de mal-estar.

Por causa da contratação de pessoal, como foi o caso de uma ex-assessora do grupo parlamentar do PS, mas também por algumas escolhas de funcionários do Serviço de Informações e Segurança (SIS) para postos no SIED, dirigido por Jorge Silva Carvalho.

Este clima de descontentamento é admitido por fontes dos serviços, que pedem o anonimato. E que o explicam com as recentes mudanças nas chefias de vários departamentos do SIED, com trocas de pessoal experiente por outro dos próprios serviços. Ou, no caso de "estações" no estrangeiro, por funcionários do SIS. O responsável pelo Departamento Financeiro saiu e foi substituído; o mesmo aconteceu com um dirigente do Departamento A, "operacional". A escolha de responsáveis do SIS para "estações" do SIED no estrangeiro também causou mal-estar, lembrando um ex-responsável que essa opção não era tolerada no final dos anos 90.

Um dos casos mais recentes, e controverso internamente, foi a escolha de um ex-responsável do Departamento África do SIED para subdirector. Dentro do serviço, este é um exemplo do que é considerado de "falta de experiência" por um profissional de intelligence ouvido pelo PÚBLICO.

Dentro e fora da "secreta", há sinais de preocupação. Quer quanto aos custos destas mudanças feitas nos últimos anos e meses - em seis anos, de 2004 a 2009, os serviços terão crescido em mais de 70 novos elementos, correspondente a cerca de 20 por cento relativamente ao quadro de pessoal do SIS, SIED e gabinete do secretário-geral do Sistema de Informações da República Portuguesa (SIRP) e Estruturas Comuns. Outra das preocupações expressas ao PÚBLICO é o risco de perda de credibilidade externa dos serviços de informações portugueses. Receio esse que é ilustrado pela informação de que a estação em Lisboa de uma "secreta" de um importante país aliado da NATO passar a ficar na dependência de Madrid.

O PÚBLICO enviou, no início da semana, uma série de perguntas ao gabinete do secretário-geral do Sistema de Informações da República Portuguesa (SIRP), Júlio Pereira, mas não obteve até ontem qualquer resposta. Igualmente contactado pelo PÚBLICO, o deputado Marques Júnior, que preside ao Conselho de Fiscalização do SIRP, optou por não se pronunciar.

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