"Fui demitida por motivos políticos"
Não fui demitida por incompetência. Fui demitida por motivos políticos. Sou independente. E foi preciso pôr aqui uma pessoa do PS. É um facto.
O secretário de Estado da Saúde nunca lhe deu a entender que a ia demitir?Nunca me comunicou. E tenho a firme convicção de que o senhor secretário de Estado não tem competência legal para demitir o conselho de administração (CA) do SUCH porque esta é uma associação privada com uma tutela que é remota, que tem o poder de nomear o presidente e o vice-presidente do CA, mas os estatutos não prevêem que os possa destituir.
Então o ministério mentiu quando disse que já sabia desde Abril que ia sair?Tem que perguntar a eles. Eu soube pela comunicação social e pelo despacho entretanto publicado. O que acho particularmente grave é que um membro do Governo viole um segredo no exercício de cargo público. É um mistério total. Usa-se como arma de arremesso uma auditoria que, segundo a lei do Tribunal de Contas (TC), é absolutamente confidencial.
O certo é que o relato de auditoria do TC existe e tem muitos factos...Mas a matéria que está ali relatada não é objecto de divulgação pública. Não estão ouvidas as partes. [Por isso] estou a ponderar colocar um procedimento criminal, nomeadamente sobre o acto de despacho do secretário de Estado.
Isto foi então tudo orquestrado?Não. São coisas completamente diferentes. Mesmo que as conclusões viessem a ser as mesmas - e estou certa de que não serão - nunca poderia ser usada agora, porque não está concluída. Isso foi uma desculpa.
Este despacho é ilegal?Em minha opinião, é ilegal, e por dois motivos. Porque foi praticado por quem não tem competência legal para o fazer. E porque usa como fundamento uma matéria que não existe, porque não está contraditada. O que aqui é notícia é a quem é que interessa pôr uma matéria confidencial na rua.
Interessa a quem?Pode interessar a muita gente. Pode interessar a concorrentes de áreas tradicionais que perderam quota de mercado. Se alguém acabar com o SUCH, há concorrência que partilha 50 por cento de quota de mercado que fica em situação de monopólio. Houve cartéis de formação de preços e o SUCH ficou de fora porque somos intransigentes. Houve tentativas de canibalização pela concorrência das áreas tradicionais do SUCH, tentativas de cartelização. E crescemos nas áreas tradicionais quase 80 por cento.
Mas a quem é que interessa o SUCH?Não imaginam os milhares de reuniões que tive ao longo destes quatro anos, de abordagens de concorrentes para parcerias e não imaginam quantas vezes ouvi membros do Governo dizer que foram abordados por esses mesmos concorrentes a dizer que, se o SUCH for dissolvido, quero ficar com essa quota de mercado.
Está a dizer que o secretário de Estado foi permeável a interesses?Não. O secretário de Estado disse num workshop que, na primeira semana [como governante], recebeu representantes de duas empresas concorrentes do SUCH que lhe foram dizer que, quando o SUCH for dissolvido, queriam ficar com aquela quota de mercado.
O que é que os associados ganharam com os seus quatro anos da sua gestão?A criação da plataforma [de serviços partilhados]. Não a tinham e passaram a ter.
O que falhou?Durante um ano e meio, estivemos à espera para poder arrancar [com a plataforma]. Já a central de compras não tem nada a ver com isto. Tem uma outra explicação. São feitas com três centros hospitalares cuja adesão estava prevista e que representam 17 por cento das compras do SNS. Mas [estes] boicotaram a central.
Mas isto é bizarro... Não só não contribuem como boicotam.É completamente bizarro. Uma coisa é garantida: não foi nenhuma incompetência nossa.
Os auditores não só não contribuíram como boicotaram... Os auditores do TC alegam que não conheciam as idiossincracias do sector da saúde. O SUCH nunca fez outra coisa e, quando foi desafiado para avançar noutras áreas, fez parcerias com quem sabia. Mas houve imensas surpresas. O conselho de administração do SUCH percebeu logo em 2008 que a coisa não ia lá com liberdade de adesão e que é preciso corrigir a estratégia. Portanto, propusemos a criação de uma empresa pública que supostamente tinha de arrancar até 1 de Junho. Preocupa-me muito que ainda não tenha arrancado. É angustiante. Vocês viram as medidas de poupança do Ministério de Saúde? Poupar em papel higiénico e sabonete... quando podia poupar milhões de euros por ano.
O conselho de administração não teve capacidade para alterar a situação?Tentamos convencer [os hospitais associados a aderir]. Não tivemos foi a capacidade de, quando começaram a boicotar e a resistir, obrigar. Quem manda em nós são os associados. O que me preocupa agora é se o Governo tiver a intenção de dissolver o SUCH e eles entendem não poder reagir.
O que é que aconteceu para o endividamento bancário do SUCH ter disparado para 33 milhões de euros em 2009?Em 2008, houve uma crise financeira em que o crédito se torna mais caro. O SUCH não tem capital porque é uma associação sem fins lucrativos.
Além do aumento dos prejuízos, o passivo global disparou desde 2006...A resposta é muito simples. O aumento do passivo decorre directamente do aumento da dívida dos associados. Enquanto o volume de negócios cresceu 107 por cento nestes quatro anos, as dívidas dos associados cresceram 140 por cento. Hoje, [a dívida] está em 73 milhões de euros e o prazo de recebimento agravou-se 140 dias. O SUCH não tem dinheiro.
Mas tem dinheiro para contratar consultores e fazer estudos e planos estratégicos.Para pagar os salários não faltou dinheiro para nada. Fizemos tudo.
Qual é o peso das despesas com pessoal face ao total?Em 2006, era de 48 por cento. Em 2009, era de 41 por cento. A produtividade aumentou 23 por cento. O aumento de salários de 2008 para 2009 é de 3 por cento quando o aumento do volume de negócios é de 12,7 por cento.
E quanto ao aumento das remunerações do CA?Posso-lhe dizer que as remunerações são definidas pela comissão de vencimentos e aprovadas em AG. O CA anterior tinha menos um elemento e isso pesa alguma coisa. Mas a diferença são só 7 por cento. Ninguém aqui se auto-remunerou.