Construtoras confrontam Governo com risco de pararem trabalhos se Angola não pagar dívidas

Num encontro organizado pelo AICEP, em Luanda, entre o ministro António Mendonça, que termina hoje uma visita de trabalho de dois dias a Angola, e os empresários e representantes de empresas portuguesas no país, a questão da dívida do Estado angolano esteve presente em quase todas as intervenções dirigidas ao ministro.

A dívida reconhecida pelo Estado angolano às empresas da construção civil ascende aos três mil milhões de dólares le às portuguesas aproxima-se dos dois mil milhões.

No entanto, há cerca de duas semanas o ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, anunciou, em Luanda, que uma linha de crédito criada por Portugal em 2009, no valor de 500 milhões de euros, iria ser finalmente activada e usada por Angola para essencialmente pagar às construtoras.

Hoje, António Mendonça ouviu dos empresários a informação de que ainda não foi dado qualquer passo com as empresas para a regularização dessa dívida e os representantes de empresas como a Somague ou a Edifer, admitiram que “algumas empresas estão a bater no fundo” e mesmo “em risco de se verem obrigadas a parar a laboração”.

Pires Fernandes, representante da Edifer disse a António Mendonça que “a urgência de receber começa a ser um problema grave” e que “algumas empresas podem ser obrigadas a parar de laborar”.

Confrontado com este cenário pela Lusa, António Mendonça preferiu destacar a “perspectiva optimista” que trespassou por parte das empresas no médio e longo prazo e que os problemas que existem “são de natureza conjuntural”.

Garantiu ainda que “existe vontade da parte angolana e portuguesa em ultrapassar os problemas, que são de natureza conjuntural”.

“Se tivermos presentes essas perspectivas de médio e longo prazo as empresas estão optimistas relativamente às oportunidades de trabalho oferecidas pelo mercado angolano. O ministro das Finanças (Teixeira dos Santos) esteve recentemente em Angola, trabalhou com o seu homólogo na operacionalização dessa linha de crédito e posso dizer tudo está a ser feito para resolver o problema”, assegurou.

“Temos de ter consciência que o mundo inteiro atravessou uma crise económica e financeira de grandes proporções e estamos ainda a assistir às ondas de choque dessa crise que afectou os países e a liquidez das instituições”.

António Mendonça entende que os investidores portugueses em Angola devem encarar este momento como uma situação particular, apontando que “as situações particulares devem ser vistas também do ponto de vista particular”.

“Estou optimista quanto à resolução desses problemas e devemos avaliar as coisas no médio e longo prazo, porque, com as taxas de crescimento previstas para Angola, cerca de nove por cento em 2010, podemos ver que existe um enorme potencial de oportunidades”, afirmou.