Joseph Stiglitz põe a hipótese de Portugal ou Espanha falirem
Sitglitz, professor na universidade de Colúmbia, fez esta observação durante uma entrevista ao diário espanhol El País, quando falava da dificuldade em encontrar uma solução para a actual situação em Espanha, onde o desemprego oficial roça os 20 por cento e que está perante o dilema de aumentar, ou não, impostos.
Esta observação deste economista que foi assessor do Presidente Bill Clinton e que é muito crítico da actual globalização comercial e financeira (e particularmente do sistema financeiro) segue-se a várias referências na imprensa internacional à situação financeira portuguesa.
Também hoje, um artigo de opinião no diário britânico Telegraph questiona se a Alemanha também vai ter de financiar Portugal. A comparação do peso das dívidas públicas portuguesa e grega é contrastada com o peso das dívidas dos respectivos sectores privados, e o país não sai muito bem na imagem.
A dívida pública nacional deverá representar este ano 86 por cento do PIB, enquanto a grega representará 124 por cento. Mas a dívida provada nacional era 239 por cento do PIB em 2008, face a 129 da grega, de acordo com um analista do Deutsche bank citado no Telegraph.
Na sexta-feira, o país era já tinha sido apresentado no diário The New York Times como o próximo alvo dos mercados. Num artigo intitulado “Preocupações com a dívida mudam para Portugal, motivadas pela subida das taxas das obrigações”, dizia-se que os especuladores dos mercados estavam agora a avançar em direcção “a mais um pequeno membro da perturbada zona monetária europeia”, depois de a Grécia estar aparentemente em vias de ultrapassar a sua crise imediata, através da ajuda dos outros membros da zona euro e do FMI.
No dia anterior, Simon Jonhson, ex-economista chefe do FMI, dizia que “o próximo grande problema global” seria Portugal. Considerava mesmo que até agora o país só tem conseguido estar fora do centro das atenções apenas graças à Grécia, e que estes dois países estão piores do que a Argentina em 2001. Outro economista de nomeada, Nouriel Roubini, dizia também que Portugal e a Grécia poderiam ter de abandonar a zona euro.
Hoje as taxas de juro cobradas nos mercados financeiros pela compra de seguros contra incumprimento da dívida pública portuguesa subiram 19 pontos-base (0,19 por cento), fazendo disparar para 151 pontos base a margem sobre os juros cobrados para os produtos do mesmo tipo sobre a dívida do Estado alemão – que são os mais baixos da Europa.
Euro em causaSitglitz recebeu um Nobel da Economia em 2001 e tornou-se uma vedeta por ser muito crítico da actual globalização comercial e financeira, particularmente do papel do sistema financeiro, e ter sido dos poucos que anteciparam a crise internacional que se desencadeou em 2008. Na entrevista que o El País publica hoje mantém a linha de pensamento que o tornou muito admirado sobretudo na Europa, mas actualizada à luz das mais recentes consequências da crise internacional.
Agora, diz que o euro “corre o risco de desaparecer se não se gerar uma onda de solidariedade e não se puserem em marcha soluções institucionais”. Chega a esta conclusão a partir do que aconteceu na crise asiática da segunda metade dos anos 1990, em que as economias de vários países foram caindo sucessivamente às mãos dos mercados financeiros internacionais.
“O problema é evidente, mas a lentidão e a debilidade da resposta questionam a sobrevivência do euro. Os mercados não são propriamente uma fonte de sabedoria: são predadores, muitas vezes são estúpidos, são completamente imprevisíveis, e se a Alemanha e a Europa não procurarem soluções podem provocar estragos”, afirma a certa altura.
Assinala também o “paradoxo” de se ter dado aos bancos um “cheque em branco para os salvar”, e de agora se pôr à disposição da Grécia ajuda financeira “a um custo excessivo”. Não se pode “ganhar dinheiro à custa da família, como parece querer fazer a Europa”, rematou.