Bispos portugueses discutem “possíveis casos de abusos sexuais” já em Abril

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Manuel Morujão (à direita) sublinha que não se está a admitir a existência de casos Pedro Cunha (arquivo)

Os bispos portugueses irão discutir eventuais casos de abuso sexual por parte de membros do clero, já na assembleia plenária de Abril da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), soube o PÚBLICO.

A decisão de debater o tema foi anunciada ao final do dia, num comunicado do porta-voz da Conferência Episcopal, padre Manuel Morujão. No curto texto de seis linhas, este responsável diz que “no seguimento das recomendações por parte do Papa Bento XVI, na abordagem dos possíveis casos de abusos sexuais por parte de membros do clero”, a Conferência Episcopal seguirá “os mesmos princípios: reconhecer a verdade e auxiliar as vítimas; reforçar a prevenção e colaborar construtivamente com as autoridades”.

O comunicado acrescenta apenas: “Neste sentido, faremos uma reflexão sobre esta temática, numa nossa próxima reunião.” Apesar de não definir data, o PÚBLICO sabe que o debate deverá acontecer já na assembleia plenária de Abril, que decorrerá entre os dias 12 e 15 de Abril.

A única questão para não ter sido avançada uma data concreta é que a agenda da assembleia tem que ser decidida e aprovada pelo conselho permanente da CEP. Este órgão interno não poderá reunir antes do primeiro dia do encontro plenário dos bispos.

O texto do porta-voz dos bispos surgiu como resposta a uma notícia da edição do jornal “i”, desta manhã, segundo a qual haverá dez padres indiciados por crimes de abusos de menores em, Portugal, entre 2003 e 2007.

Em declarações ao PÚBLICO, Manuel Morujão esclarece que o facto de o tema ser debatido não significa que se esteja a admitir a existência de caso. “Dizemos que é a abordagem de possíveis casos”, afirma. “Mesmo o que era noticiado pelo ‘i’, vamos ver se é verdade. Uma pessoa pode ser acusada e não ser verdade”, acrescentou.

Também esta manhã, o Papa Bento XVI afirmou que irá assinar na próxima sexta-feira a carta sobre o tema dos abusos sexuais. Aproveitando a presença de um grupo de peregrinos irlandeses na audiência-geral de quarta-feira (era o dia de São Patrício, padroeiro do país) o Papa afirmou: “Nestes últimos meses, a Igreja na Irlanda foi severamente abalada pela crise dos abusos sexuais contra crianças. Como sinal da minha profunda preocupação, escrevi uma carta pastoral que trata desta situação dolorosa. Vou assiná-la no dia de São José, guardião da Sagrada Família e patrono da Igreja universal.”

“Peço a todos que a leiam, de coração aberto e no espírito da fé”, acrescentou Bento XVI, manifestando a esperança de que a carta “ajude no processo de arrependimento, de cura e de recomeço”.

O Papa anunciara a publicação da carta, em Dezembro, após um encontro que teve com o primaz da Igreja irlandesa, o cardeal Sean Brady. Antes, um relatório oficial fizera um levantamento dos casos que se tinham registado no país até à década de 1990 e do encobrimento com que vários bispos tinham tratado esses casos.

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