Ajuda para combater fome na Etiópia em 1984-85 foi gasta em armas

Milhões de dólares destinados a alimentar as vítimas da fome que matou cerca de um milhão de pessoas na Etiópia foram desviados por rebeldes que terão enganado as agências humanitárias e os usaram para comprar armas, revela uma investigação da BBC.

Antigos líderes rebeldes admitiram que durante a guerra, 1984-85, se disfarçaram de comerciantes e negociaram com elementos de organizações humanitárias a venda de sacas de cereais parcialmente cheias de areia. Um deles calcula em 95 milhões de dólares o montante assim obtido que terá sido desviado para a compra de armas.

A crise humanitária, acentuada pela guerra civil, deu origem aos concertos Live Aid organizados pelo músico Bob Geldof que reuniram mais de 60 milhões de dólares. Milhões de pessoas foram salvas pela solidariedade internacional, mas os dados recolhidos pela BBC indicam que nem toda a ajuda foi para os mais necessitados.

Parte do dinheiro recolhido foi usado na compra de alimentos a agricultores locais e os desvios terão ocorrido nessas negociações.

Gebremedhin Araya, antigo membro da Frente de Libertação do Povo do Tigray, actualmente exilado na Holanda, assume ter feito esse tipo de negócio. O antigo rebelde aparece numa foto disfarçado de comerciante, ao lado de um elemento da organização Christian Aid, a contar dinheiro que afirma ter depois entregue a Meles Zenawi, que em 1991 se tornaria primeiro-ministro.

Zenawi, que permanece no cargo, recusou comentar a investigação, mas a história é confirmada por outros ex-guerrilheiros.

Documentos da CIA de 1985 indicam também que uma parte da ajuda teria sido desviada para fins militares. O Governo etíope de então, a braços com rebeliões na Eritreia e Tigray, no norte, não controlava boa parte do território.

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