250 desaparecidos fazem temer enorme catástrofe

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Enric Vives-Rubio
As ruas estão repletas de carros destruídos
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As ruas estão repletas de carros destruídos Enric Vives-Rubio
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Entre a morte, a dor e a desolação, com luto decretado a nível nacional durante três dias, a Madeira procura retomar a normalidade. Mas as marcas de destruição são profundas e dificilmente serão apagadas nos próximos meses, sobretudo na baixa e zonas altas do Funchal. Ou mesmo na marginal da Ribeira Brava, o segundo maior palco de devastação.

Entretanto, os cães pisteiros das equipas de socorro da GNR que trabalham no local detectaram odor de cadáveres no Centro Comercial Anadia, na baixa do Funchal, onde prosseguem as operações de bombeamento de água dos pisos de estacionamento subterrâneo. O Presidente da República já anunciou que deverá chegar à Madeira na próxima quarta-feira e o ministro da Economia estará amanhã no arquipélago.

Durante todo o dia de ontem, aproveitando as condições atmosféricas favoráveis, intensificaram-se os trabalhos de desassoreamento das ribeiras e desobstrução das estradas, de modo a permitir as tarefas de localização e socorro aos mais de 250 desaparecidos. Todos temem que destes muitos venham a juntar-se aos 43 mortos até ontem identificados pelas autoridades locais, número que Alberto João Jardim, presidente do governo regional da Madeira, considerou “desproporcional” à centena de feridos, incluindo os 70 hospitalizados. O número de desaparecidos continua a gerar confusão, com as autoridades a apontarem para apenas 4 pessoas cujo paradeiro se desconhece.

A palavra de ordem, decretada por Jardim, é voltar à normalidade, o mais rapidamente possível. “Cuidado com as dramatizações” e “não esquecer que a nossa economia vive do exterior”, recomendou o governante aos jornalistas, no sábado ao fim da noite, depois da reunião com o primeiro-ministro José Sócrates na Quinta Vigia. “Não vale a pena dramatizar a situação lá para fora”, até porque “não houve nenhum caso grave com o sector do turismo”, acrescentou Jardim, que mostra estar pouco receptivo à declaração de estado de calamidade por causa do eventual impacto negativo nos mercados turísticos.

Enquanto vão chegando à ilha, por via aérea ou marítima, meios da República disponibilizados por Sócrates que prometeu “toda ajuda de que o governo regional necessite para acorrer a esta grave situação”, o acesso a localidades até agora isoladas permite uma visão mais clara da tragédia. A reabertura parcial da estrada de acesso ao Curral das Freiras desfez o pesadelo de uma ainda maior catástrofe. “A situação real não é tão grave como à primeira visita julgávamos”, disse o presidente do município de Câmara de Lobos, Arlindo Gomes, após conseguir a primeira ligação telefónica com o presidente da junta.

Mas nesta freguesia, como no concelho da Ribeira Brava, continuam isoladas populações de sítios onde ruíram pontes ou foram destruídas as estradas de acesso. A falta de comunicações telefónicas, da rede fixa e móvel que progressivamente estão a ser retomadas na costa norte e zona leste, fez aumentar a angústia dos que procuram contactar familiares e amigos. Neste aspecto, foi notado o serviço público prestado pela RDP-Madeira na aproximação dos mais solitários e aflitos.

30 mil crianças sem escola

Nas operações de limpeza nas ribeiras e estradas nos quatro concelhos da faixa sul da ilha (Funchal, Ribeira Brava, Santa Cruz e Calheta) estão a operar mais de 270 máquinas e 148 camiões, revelou a secretária dos Transportes e Turismo. No balanço de ontem, no fim da tarde, Conceição Estudante disse ainda que há problemas de abastecimento de água potável no Curral das Freiras, Ponta do Sol e Ribeira Brava. No Funchal, sobretudo nas zonas altas de Santo António e Monte, 30 por cento da população está sem água.


Quanto às deficiências no fornecimento de electricidade, Estudante disse que a situação do Curral das Freiras “está resolvida”, mantendo-se o problema no Campo da Barca, no Funchal, e área envolvente, no Anadia cuja “resolução é mais difícil”.

Maior dificuldade deverão encontrar os comerciantes da baixa funchalense para retomarem a sua actividade. Muitas lojas ficaram completamente destruídas pelas pedras e lamas ou foram invadidas por lamacentas águas que tornam inviável a abertura imediata.

Com o aeroporto da Madeira e o Porto do Funchal totalmente operacionais, estão agora a ser retomadas as carreiras de transportes colectivos pela empresa Horários do Funchal na capital madeirense, cujo centro esta intransitável devido aos trabalhos de remoção de lamas e pedras que cobrem toda a avenida do mar e, de forma mais arrasadora, a zona antiga, soterrando lojas e viaturas, entre a rua Latino Coelho e o parque de Almirante Reis. As ligações de autocarros estão normalizadas na zona leste, mas, para norte da ilha, não estão operacionais a partir do túnel da Ribeira Brava para São Vicente.

Dadas as dificuldades nas deslocações e para não atrasar os trabalhos de localização de desaparecidos e de restabelecimento das acessibilidades, o governo regional decidiu encerrar hoje e amanhã as escolas do Funchal, Câmara de Lobos e Ribeira Brava — onde estudam mais de 30 mil alunos —, tendo também a Reitoria da Universidade da Madeira cancelado todas as actividades até quarta-feira. Os funcionários da administração regional, à excepção dos considerados imprescindíveis às operações prioritários, estão dispensados de comparecerem hoje aos serviços. Ontem, ao longo do dia, continuaram a chegar mensagens oficiais de vários países, entre os quais Espanha, França, Reino Unido, Rússia e CPLP.

Notícia actualizada às 10h42, de 22.02.2010
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