Nome de Maria João Seixas na Cinemateca não é consensual

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Maria João Seixas foi assessora de Guterres para a Cultura e mandatária de Sampaio, Soares e Carrilho Enric Vives-Rubio

O nome de Maria João Seixas à frente da Cinemateca Portuguesa é recebido com agrado pela Associação Portuguesa de Realizadores (APR), pelo produtor Paulo Branco e pelo realizador João Pedro Rodrigues, que acreditam que a jornalista honrará o trabalho do seu antecessor, João Bénard da Costa. Mas Vasco Pulido Valente, que enquanto secretário de Estado do VI Governo Constitucional, em 1980, nomeou Bénard da Costa para a Cinemateca, ataca "a nomeação mais escandalosa e incompreensível desde o 25 de Abril".

Depois de cerca de um ano com Pedro Mexia na direcção interina, Margarida Gil, presidente da APR, acha que Seixas será capaz de "consensos", mas também de "peso político" na defesa da herança de cinefilia de Bénard da Costa, que morreu em Maio deste ano. Vasco Pulido Valente defende o contrário: "Maria João Seixas não tem sombra de competência para o cargo e só pode, por pouco tempo que lá esteja, arruinar a obra de Bénard da Costa." Pulido Valente considera ainda que "a passividade e complacência com que este acto do Governo foi recebido mostram bem a miséria moral e política a que chegámos". A blogosfera espelhava ontem a divisão: reparos quanto à grande proximidade de Seixas com o PS, elogios a qualidade da escolha.

Paulo Branco, por seu turno, considera que Seixas é "uma óptima escolha", referindo o seu "trabalho", "trajecto público" e "relação com o cinema" para lhe darem "garantias de que será uma digna sucessora de Bénard da Costa". Margarida Gil frisa que Seixas é "uma pessoa do cinema", apesar de "não ser uma escolha óbvia", e lembra que Bénard da Costa "tinha uma relação de confiança" com ela, "o que torna a escolha afectiva e compreensível". "Ela vai proteger o que já está feito", "uma ideia de cinema de autor, com as várias tradições em que se inscreve o cinema português, da salvaguarda do cinema europeu", diz.

João Pedro Rodrigues recebeu o nome com alívio. "Era uma situação que se arrastava há imenso tempo e que me angustiava", explicou, fruto da sua "relação quase afectiva" com o espaço em que começou a ver cinema. A Maria João Seixas, pede: "É importante que a Cinemateca não feche os olhos ao cinema actual que se faz em todo o mundo. Com o estado catastrófico da distribuição, cabe-lhe também esse papel."

O PÚBLICO contactou ontem, sem sucesso, o realizador António Pedro Vasconcelos, que na última edição do Sol criticava em artigo de opinião o "conservadorismo", "o sectarismo em relação ao cinema português" e "o favorecimento da programação em detrimento da conservação" de Bénard da Costa, defendendo que a tutela defina se haverá continuidade ou diferença na Cinemateca - que terá o seu pólo no Porto, como a ministra da Cultura já anunciou.

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