Uma nova orquestra e o fenómeno Dudamel

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Dudamel é um ícone da música clássica Jorge Silva/Reuters

O imparável e electrizante maestro venezuelano Gustavo Dudamel está de regresso a Portugal. Desta vez não vem com a sua famosa Orquestra Sinfónica da Juventude Venezuelana Simón Bolívar, que deixou o Coliseu de Lisboa ao rubro em Abril, mas traz-nos um novo projecto em estreia mundial. Trata-se de Orquestra Juvenil Ibero-Americana, criada no âmbito de um programa da Secretaria-Geral Ibero-Americana (Segib), que terá hoje, às 19h, a sua primeira apresentação pública na Gulbenkian.

Os 129 jovens músicos provenientes de Espanha, Portugal e de 20 países latino-americanos que estagiaram entre 19 e 30 de Novembro na pequena localidade de Pilas (perto de Sevilha) sobem hoje ao palco do Grande Auditório, depois de terem tocado num concerto privado inserido na Cimeira Ibero-Americana a decorrer no Estoril. Amanhã interpretam em Madrid o mesmo programa, composto por obras de Inocente Carreño (Margariteña), Manuel de Falla (O chapéu de três bicos) e Tchaikovsky (Sinfonia nº5).

Com idades compreendidas entre os 18 e os 28 anos, os membros da nova orquestra foram seleccionados por currículo e por indicação dos directores de algumas instituições musicais. A formação total incorpora 43 elementos da Orquestra Simón Bolívar, cuja ampla experiência servirá certamente como uma sólida base de sustentação. A representação portuguesa cabe a oito instrumentistas oriundos da Escola Superior de Música de Lisboa, da Academia Nacional Superior de Orquestra e da Escola Superior das Artes do Espectáculo do Porto: Paula Carneiro e David Ascensão (violinos), Francisco Pampulha (viola de arco), Nuno Abreu (violoncelo), Ricardo Tapadinhas e André Carvalho (contrabaixo), Filipe Freitas (oboé) e João Pedro Santos (clarinete).

Tratando-se de um concerto extratemporada, os bilhetes só foram postos à venda a 2 de Novembro, mas esgotaram em poucos dias. Dudamel é hoje um fenómeno de massas e o público português também não escapou à euforia. A paixão incandescente e a energia que coloca na direcção musical e os resultados surpreendentes que tem obtido com a Orquestra Simón Bolívar - símbolo máximo de "El Sistema", projecto cultural e social criado na Venezuela pelo maestro José António Abreu com o objectivo de reabilitar e integrar através da música jovens de meios sociais desfavorecidos - contribuíram para converter este jovem maestro de 28 anos num ícone. "El Sistema" foi distinguido em 2008 com o Prémio Príncipe das Astúrias das Artes e conta hoje com uma rede de 250 orquestras infantis e juvenis, tendo no topo a Simon Bolívar, actualmente uma das grandes apostas da prestigiada editora Deutsche Grammophon.

Dudamel é um caso raro de talento precoce numa área tão exigente como a direcção de orquestra nas mais altas esferas do circuito internacional. A sua estreia recente como director da Filarmónica de Los Angeles, num concerto transmitido em directo pela Internet causou furor e a recepção de boas-vindas nessa mesma tarde contou com 18 mil pessoas. A vitalidade que Dudamel transmite aos seus músicos e ao público é uma experiência única. Apoiado por uma técnica sólida, é um maestro que viaja ao sabor do instinto e sabe moldar tensões e clímaxes de forma empolgante. Mas o sucesso da Simon Bolívar resulta também de vários anos de trabalho. Ver o que Dudamel consegue fazer com uma orquestra acabada de criar constitui uma das grandes curiosidades e expectativas do concerto desta tarde.

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