Minaretes: Cohn-Bendit pede aos muçulmanos para “tirarem dinheiro dos bancos da Suíça”

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A mesquita de Essalaam, em Roterdão: o político Geert Wilders já disse que quer um referendo na Holanda Jerry Lampen/Reuters

O Comité dos Direitos Humanos da ONU já avisara que se os suíços aprovassem a proibição dos minaretes deixariam de cumprir o Convénio Internacional sobre os Direitos Políticos e Cívicos. Agora que os suíços já disseram “não” às torres dos muçulmanos, o país “corre o risco de entrar em colisão com as suas obrigações internacionais de direitos humanos”.

A principal responsável das Nações Unidas para questões de direitos humanos, Navi Pillay, considera a proibição votada por 57,5 por cento dos eleitores, e que agora será acrescentada à Constituição do país, “discriminatória e profundamente fracturante”.

O gabinete de Pillay esclareceu estar preparado para avançar com uma posição oficial, se a proibição for desafiada na justiça. Alguns líderes muçulmanos e partidos suíços admitiram levar o caso ao Tribunal Europeu dos Direitos Humanos de Estrasburgo.

Se a proibição for concretizada, a Suíça entrará mesmo em violação do convénio, defendeu à Reuters Nigel Rodley, membro do comité de Pillay. “É o equivalente a banir os campanários das igrejas”, sustentou.

Reuniões da ONU em causa

A Suécia, que assegura a presidência rotativa da UE, condenou cedo este voto. Mas o ministro dos Negócios Estrangeiros, Carl Bildt, foi ontem mais longe, ao escrever no seu blogue que “se podem levantar questões dentro da ONU sobre a organização de reuniões e actividades na Suíça”.


Este referendo, defendeu Bildt, foi um triste acto de diplomacia. “Mesmo se se trata da Suíça, envia um sinal muito infeliz a grande parte do mundo sobre as atitudes e os preconceitos na Europa. É do interesse de todos mostrar que esta impressão é falsa e mesmo perigosa, a longo prazo.”

Mais longe ainda foi o co-presidente da bancada dos Verdes no Parlamento Europeu, Daniel Cohn-Bendit, descrevendo “o problema helvético” como “o egoísmo dos ricos”.

A resposta certa, sugere, é “os mais ricos dos países muçulmanos retirarem o seu dinheiro dos bancos suíços”. Genebra é um importante centro financeiro e gestor de fortunas, muito procurado pelos árabes do Golfo. “Esvaziem os cofres da confederação”, pediu Cohn-Bendit num texto que será hoje publicado no diário suíço "Le Temps". “A Suíça habituou-nos a estas atitudes. Penso, claro, na II Guerra. Não teve nenhum problema em sacrificar os que pediam asilo”, escreveu.

Consciente das críticas e das consequências, o Governo suíço, que se opôs à proibição, esforça-se por defender que “este voto não modifica em nada os objectivos de política externa da Suíça”, como afirmou a chefe da diplomacia, Micheline Calmy-Rey. “A Suíça mantém relações estreitas com todos os países muçulmanos”, sublinhou numa reunião da OSCE.

O referendo, assegurou, “vai motivar-nos a procurar no futuro maior abertura e mais parcerias entre países muçulmanos e não muçulmanos”.

No mundo muçulmano, depois de uma série de apelos à calma por parte de líderes religiosos, continuam as críticas. O primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, exortou a Suíça “a recuar sem demoras neste erro”. A consulta, disse Erdogan, “reflecte o crescimento de uma vaga de racismo e de extrema-direita na Europa”. Os dois partidos que promoveram a consulta são da direita radical.

Também ontem, o mufti da Bósnia, Mustafa Ceric, lamentou esta recusa dos “símbolos” do islão e denunciou uma “crise moral” na Europa. A maioria dos 400 mil muçulmanos da Suíça é originária da Bósnia e da Turquia.

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