Portugueses desvendaram mais um mistério da dança da divisão celular
A metáfora da dança quando falamos de divisão celular parece ter-se transformado em algo incontornável. Hélder Maiato também recorre a esta imagem para explicar o momento em que os cromossomas se alinham no centro da célula e iniciam uma coreografia coordenada e sincronizada que resulta em duas células filhas. Conhecer este bailado, saber muito bem quais os papéis dos bailarinos, identificar todos os passos da coreografia é essencial para corrigir ou prevenir os eventuais erros nesta dança da vida.
Para já, os investigadores do IBMC quiseram estudar uma estrutura (aparelho miótico) que está ligada ao movimento que leva os cromossomas para os pólos da célula. "Não é mais que o citoesqueleto, o esqueleto da célula modificado para este fim. Funcionam como cordas que ajudam os cromossomas no caminho para os pólos. Mas são cordas dinâmicas", diz Maiato.
Há uma renovação constante das cordas (microtubos), mas ninguém percebia porquê, diz o cientista. "Era um dos mistérios deste processo. Elas não só mantêm o cromossoma ligado como, ao mesmo tempo, se renovam como se perdêssemos um pedaço de corda numa ponta e acrescentássemos na outra". Apoiando-se num modelo matemático que simulou as forças do aparelho mitótico, os pesquisadores demonstraram que este processo de renovação é importante para a segregação coordenada e sincronizada no momento da divisão. "Se a corda não se renovar não há forma de garantir que os cromossomas comunicam e sabem qual é a força que está a ser exercida sobre cada um deles. Quando as cordas se renovam, as forças tendem para o mesmo valor", explica o autor do artigo. Concluiu-se que a renovação das cordas garante o equilíbrio das forças nos diferentes cromossomas, assegurando a sincronia do bailado da divisão celular. Como se estivéssemos num espectáculo de marionetas.
E se as cordas não se renovarem no processo de divisão celular? Os cromossomas não beneficiam de um equilíbrio de forças, dançam descoordenados, há erros e daí resultam células filhas com anomalias. Ou seja, problemas, doenças. Torna-se crucial regular este processo. Mas antes de se pensar em estratégias terapêuticas capazes de prevenir os erros, é preciso encontrar os alvos moleculares.
Essa é sempre a meta: prevenir, corrigir. O passo seguinte dos investigadores do IBMC é tentar descobrir de onde vem a força, quem puxa o quê e perceber o mecanismo molecular. E conclui: "Conhecendo as moléculas podemos actuar sobre elas, desenvolver fármacos que actuem especificamente em determinada área minimizando efeitos secundários ".