Tutela dividida entre Economia e Finanças

O ministro da Economia, Carlos Tavares, disse ontem que o Governo está empenhado em participar na assembleia da PT marcada para a próxima terça-feira, embora não tenha indicado o sentido de voto que o Estado vai tomar na proposta que prevê a alteração dos estatutos da empresa. "Vamos fazer todos os possíveis para que não seja adiada", acrescentou Carlos Tavares, o que indica que a sua posição em relação à redução dos poderes da "golden share" e à alteração do modelo de gestão da PT possa vir a ser favorável. A tutela da PT vai ser dividida, neste novo Governo, entre os Ministérios da Economia e das Finanças. Manuela Ferreira Leite ficará com responsabilidades sobre as decisões estratégicas da PT (nomeadamente sobre fusões ou aquisições por parte de accionistas estrangeiros), contra as quais pode votar ao abrigo dos poderes conferidos pela "golden share" do Estado, enquanto Carlos Tavares ficará com a gestão corrente da empresa e com os contactos com os accionistas privados.




Privados recusam Ferreira do Amaral na Portugal Telecom

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O Governo deverá aprovar as alterações estatutárias da PT na assembleia de terça-feira PUBLICO.PT

O Governo propôs o ex-ministro das Obras Públicas e das Comunicações Joaquim Ferreira do Amaral para a presidência da Portugal Telecom (PT), o que implicava o afastamento de Murteira Nabo da empresa, mas a decisão não contou com o apoio dos accionistas privados nacionais, como o Banco Espírito Santo (BES), Banco Português de Investimento (BPI), Luís Silva e Patrick Monteiro de Barros.

O processo de contestação a esta ideia foi liderado pelo BES, segundo confirmou o PÚBLICO junto de accionistas da empresa.

Apesar das críticas recentes que o presidente do BES, Ricardo Salgado, tem dirigido à gestão da PT, os responsáveis do grupo financeiro entenderam que Murteira Nabo deveria manter-se até final do mandato, que termina em Março de 2003. A coincidência entre a saída de Murteira Nabo da PT e o início de um novo ciclo político em Portugal poderia ter um efeito negativo na evolução das cotações da maior empresa nacional, em termos de capitalização bolsista, designadamente junto dos seus accionistas estrangeiros.

O PÚBLICO apurou também que a intenção de Ferreira do Amaral poderia ser a de colocar Carlos Horta e Costa como presidente executivo (CEO), um homem ligado ao sector e da sua confiança pessoal. Horta e Costa foi presidente dos CTT e de seguida mandatário de Ferreira do Amaral nas eleições para a Câmara de Lisboa.

O aparente recuo do Governo em relação à escolha de Ferreira do Amaral parece dar aos accionistas privados alguma margem de manobra para reiterarem o convite dirigido a João Tallone, ex-administrador do BCP, para ocupar o cargo de CEO na PT. Mas a decisão deste gestor, que ficará nos Estados Unidos até Junho, poderá depender da forma como o processo for conduzido entre os accionistas e o Governo.

A atitude do actual presidente da PT - com quem João Tallone se reuniu na tarde do passado dia 20 de Fevereiro - pode ser igualmente decisiva, sobretudo se Murteira Nabo continuar a dar sinais de que pretende manter-se à frente da empresa com poderes muitíssimo vastos. Por outro lado, o nome que o Governo indicar em Março de 2003 para substituir Murteira Nabo, é também uma variável que pode influenciar a decisão de Tallone.

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