Futuro líder quer que UNITA seja alternativa ao MPLA

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Nos últimos anos, a UNITA concentrou-se em manter a coesão, em não desaparecer Miguel Madeira/PÚBLICO

A disputa será renhida. Qualquer um dos dois tem hipóteses de ganhar. A campanha interna foi intensa. Houve debates entre os dois candidatos em rádios privadas - algo inédito em Angola. A imprensa não oficial passou a ideia, presente na opinião pública, de que a UNITA está a dar passos importantes, embora haja ainda muito a fazer. Se um dia tem hipóteses de fazer uma oposição forte, ou mesmo ser poder em Angola, muito dependerá do contexto político, e da abertura permitida pelo Governo - condições ainda não reunidas, segundo os analitas ouvidos pelo PÚBLICO

Entre os desafios mais imediatos da UNITA: a clarificação da sua posição "ambígua", enquanto partido da oposição e membro do Governo de Unidade e Reconciliação Nacional resultante dos acordos de paz, a modernização e democratização do partido, processo que passa pelo fim da "herança autoritária" do presidente fundador, Jonas Savimbi, segundo o professor de Ciência Política na Universidade Católica de Luanda, Nelson Pestana, também escritor (sob pseudónimo Eduardo Bonavena). Para este académico e membro da Frente para a Democracia (na oposição), o lema do congresso - Reafirmação da identidade política, para a mudança - é "indicador" de que a UNITA ainda não se libertou desse passado.

A herança de Jonas Savimbi mantém-se, como uma "referência", uma "matriz", que permite ao partido resistir a ameaças de divisão. Impossível ser de outra maneira, diz o jornalista Mário Paiva, que conta um episódio recente: num dos debates radiofónicos, o da Radio Ecclesia, um dos ouvintes criticou Abel Chivukuvuku por ter, em tempos, insinuado que Savimbi representava "o passado". "Chivukuvuku respondeu não respondendo, explicando que a UNITA tinha de olhar para a frente."

Nenhum dos dois candidatos quer assumir uma "ruptura cega" com o passado, diz o professor de Ciência Política da Universidade Agostinho Neto, Fernando Macedo. "A UNITA tem o seu passado, o seu legado, os seus erros. Tem o seu passivo e o seu activo", acrescenta este académico, que é também presidente da Associação Justiça, Paz e Democracia.

"Na UNITA, a presença do presidente-fundador [Savimbi] é um factor muito marcante. Mas qualquer um dos dois candidatos saberá construir e consolidar a sua própria liderança. Vejo em qualquer um dos dois o perfil de líder", conclui.

O vencedor da eleição de hoje será o candidato às presidenciais previstas de 2009. Como adversário terá - possivelmente mas sem certezas - José Eduardo dos Santos. Mas é nas legislativas, programadas para 2008, que a UNITA diz querer apostar, criando uma dinâmica de competição e de vitória que lhe permita passar a imagem de ser alternativa ao MPLA (Movimento Popular para a Libertação de Angola), partido no poder. "Qualquer um dos dois pode fazê-lo", diz Fernando Macedo.

Promessas e determinação

Qualquer um dos candidatos promete-o, embora Chivukuvuku com maior vigor e determinação. Samakuva concentra-se no legado que deixa ao fim de quatro anos à frente do partido, e com a "difícil" missão de ter sucedido a Jonas Savimbi, reconhece, numa altura em que o partido estava fragilizado.

Com uma imagem mais mediática, Chivukuvuku joga na eloquência. "É como um Barack Obama [candidato das primárias do Partido Democrata nos EUA] de Angola", diz o jornalista Mário Paiva. "É o candidato mais novo, e aparece como mais dinâmico, mais agressivo."

Mas no essencial Chivukuvuku e Samakuva não apresentam diferenças políticas de fundo. O que os distingue é o estilo. No frente-a-frente na rádio Voz da América, Samakuva esteve "cauteloso, económico nas palavras, mas muito seguro", enquanto Chivukuvuku foi elogiado pelo seu discurso "claro e objectivo".

Nos últimos anos, a UNITA concentrou-se em manter a coesão, em não desaparecer. "A sua grande vitória foi ter conseguido resistir às tentativas de desestabilização por parte do próprio MPLA", conclui Macedo.

O professor Nélson Pestana fala de uma "grande evolução". A UNITA de Samakuva conseguiu "depurar-se de certas correntes dentro da UNITA que já tinham feito compromissos com a outra parte [o Governo]" - diz numa referência à UNITA Renovada, no seio da qual, houve figuras, como Jorge Valentim, que foram expulsas.

É esse o principal mérito atribuído a Samakuva, que, por outro lado, sofre da imagem de ter sido, por momentos, demasiado complacente para uma figura da oposição, posicionando-se "na faixa do poder, fazendo arranjos em nome da estabilidade, procurando consensos em reuniões" com o MPLA, diz Nélson Pestana. Seja como for, conclui o jornalista Mário Paiva, depois deste congresso, se ganhar, Samakuva não poderá manter esse estilo de liderança.

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