"Visão" diz que Sócrates está a criar nova polícia secreta

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Em tempo de cortes orçamentais, as secretas têm um aumento de 25 por cento nas suas verbas EPA (arquivo)

A revista "Visão" noticia hoje que o primeiro-ministro, José Sócrates, está a criar um novo núcleo de serviços de informação, sob a direcção de Júlio Pereira, secretário-geral do Serviço de Informações da República Portuguesa.

Esse núcleo já tem funcionamento no edifício da Presidência do Conselho de Ministros, na Rua Gomes Teixeira, refere a revista na sua edição de hoje, com o titulo de capa "A Secreta oculta de Sócrates".

De acordo com a "Visão", este núcleo "indicia a existência de uma secreta paralela, uma espécie de serviço privado do chefe de Governo, actuando à margem da lei e de qualquer escrutínio do Conselho de Fiscalização, eleito pelo Parlamento".

A actual legislação não prevê que o secretário-geral do Serviço de Informações da República Portuguesa (SIRP), actualmente Júlio Pereira, tenha uma estrutura própria de pesquisa e produção de informações.

Segundo a "Visão", a actividade do grupo restrito, a trabalhar para o gabinete de Júlio Pereira, que responde directa e politicamente perante o primeiro-ministro, é exclusiva do SIS (Serviço de Informações de Segurança) e do SIED (Serviço de Informações Estratégicas de Defesa).

O SIS e o SIED são os únicos com competência para pesquisar e tratar informações ultraconfidenciais, classificadas como segredo de Estado.

Em causa, escreve a "Visão", podem estar os direitos, liberdades e garantias dos cidadãos, já que o novo modelo não tem cobertura formal nem jurídica.

Ainda que a trabalhar de forma limitada e informalmente, para melhorar a eficácia dos serviços e dar apoio ao responsável do SIRP, a acção daquele núcleo contraria o espírito da lei, adianta a revista semanal.

O artigo da "Visão" indica também que o "embrião da nova secreta faz parte de um plano ambicioso, que tem sido mantido no segredo dos deuses".

De acordo com a "Visão", o objectivo final, já delineado, passa, a médio prazo, pela fusão das três actuais secretas, as duas civis (SIS e SIED) e a militar (DIMIL - Divisão de Informações Militares), num único serviço de informações.

A revista adianta ainda que alguns dos departamentos, como o financeiro, já estão em fase adiantada de integração.

O Governo, segundo a revista semanal, prepara-se para avançar com a transferência das secretas para um pólo único, de alta segurança, o qual poderá ficar instalado na Ameixoeira, na zona do Lumiar, em Lisboa, em antigas instalações militares, que, aliás, já estão em obras.

Neste momento, a questão que se coloca é complexa do ponto de vista jurídico, pois a lei de regulamentação do funcionamento dos serviços encontra-se por aprovar há cerca de um ano e meio.

A "Visão" refere que o Governo e Júlio Pereira continuam a trabalhar no assunto mas que para já ainda não há nenhum documento definitivo.

A situação não é desconhecida do novo Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, que de acordo com a revista, terá certamente uma palavra a dizer a partir de 9 de Março, data em que toma posse, pois a lei obriga a que seja "especialmente informado".

Contactado pela "Visão", Júlio Pereira não se mostrou disponível para prestar qualquer tipo de esclarecimento.

A revista escreve também que "em tempo de cortes orçamentais, as secretas têm um aumento de 25 por cento" nas suas verbas, o que pode indiciar a estratégia governamental de reforçar ou remodelar este sector.

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