PJ apreende documentos sobre projecto Freeport de Alcochete
Segundo o autarca socialista, "elementos da PJ de Setúbal apresentaram-se quarta-feira na autarquia com um mandado de busca por suspeita de 'crimes de corrupção e de participação económica em negócio', tendo levado toda a documentação relativa ao projecto do Freeport".
O licenciamento do projecto – que ocorreu durante o último Governo socialista, quando José Sócrates era titular da pasta do Ambiente – foi fortemente contestado pela Quercus, que apresentou uma queixa contra o Estado português na Comissão Europeia.
Os ambientalistas alegavam que o projecto se encontrava em plena Zona de Protecção Especial (ZPE) do estuário do Tejo, definida aquando da construção da ponte Vasco da Gama.
Com uma área global equivalente a 55 estádios de futebol, o complexo da Freeport em Alcochete custou cerca de 250 milhões de euros e é considerado o maior 'outlet' da Europa. Trata-se de um complexo lúdico-comercial com 240 lojas, 40 restaurantes, 21 salas de cinema, um anfiteatro ao ar livre e cinco mil lugares de estacionamento.
O presidente da Câmara de Alcochete, José Dias Inocêncio, afirma desconhecer sobre quem poderão recair as suspeitas dos crimes de corrupção e de participação económica em negócio que estão a ser investigados pela Polícia Judiciária, mas garante que "todo o processo de licenciamento da Freeport foi exemplar".
Projecto aprovado três dias antes das eleiçõesA posição de José Dias Inocêncio não é, no entanto, partilhada pelos ambientalistas da Quercus, que há cerca de três anos se insurgiram contra a aprovação do Estudo de Impacte Ambiental (AIA) do projecto pelo Governo, três dias antes das últimas eleições legislativas.
A Quercus contesta também o decreto-lei 140/2002, de 20 Maio, que alterou os limites da ZPE, abrindo caminho à construção nas zonas desafectadas, contrariando os compromissos do Estado português em relação ao financiamento da Ponte Vasco da Gama.
A associação ambientalista sublinha que as alterações do limites da ZPE só poderiam ocorrer após "consulta pública, consulta à União Europeia e fundamentação técnica adequada", requisitos que não tinham sido cumpridos.
Confrontado com esta posição, José Dias Inocêncio assegurou que a área onde foi construído o complexo da Freeport não era abrangida pela Zona de Protecção Especial. "Estamos a falar de um espaço classificado como zona industrial dado que já ali existiam duas unidades fabris", disse o autarca socialista, lembrando a fábrica de pneus da Firestone e a fábrica de embalagens Crown Cork.
"As restrições decorrentes da Zona de Protecção Especial cessam nas zonas urbanas e industriais pré-existentes, como aconteceu na zona onde foi construída o complexo da Freeport", garantiu.
A Policia Judiciária, através do departamento de Relações Públicas, escusou-se a fornecer mais informações, alegando que o processo se encontra "em segredo de justiça".