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Assim se cria o tenébrio, um dos insectos (crocantes) que já podes provar
“É inevitável”, diz Vasco Macedo, enquanto retira do congelador milhares de larvas amareladas: “Vamos comer insectos no futuro”. O gestor tornado criador de insectos adora e já os come diariamente, salteados com massa ou de manhã, num batido proteico. É fã do tenébrio, uma das sete espécies de insectos às quais a Direcção-Geral da Alimentação e Veterinária (DGAV) abriu caminho à comercialização e consumo para humanos em Portugal.
Está um calor húmido dentro do pequeno protótipo de produção que Vasco gere, em Leça do Balio, desde Março de 2020. Ao espreitar para as caixas empilhadas no interior dos reformados contentores de transporte alimentar de navios, transformados agora em estufas de criação, Vasco guia-nos pelo ciclo de vida do Tenebrio mollitor, desde os ovos até aos irrequietos besouros — passando pelas larvas que o conquistaram à primeira trinca.
Enquanto aguarda pelo licenciamento para consumo humano, que vai mexer com grande parte das instalações que o vídeo do P3 mostra, o principal mercado da GreenMeal são os insectos vivos para animais exóticos. Foi por aí que o gestor começou a interessar-se pelos insectos, ainda na infância, quando os criava para alimentar os animais que lhe faziam companhia em casa. Nunca pensou que, cozinhados de forma diferente, também lhe fossem parar ao prato. Sob a forma de uma barra proteica, por exemplo, como a que Guilherme Pereira e Sara Martins produzem a poucos quilómetros dali, numa divisão transformada de uma moradia em Perafita.
Por causa das diferentes formações e experiências, da proximidade geográfica e da incerteza de um “mundo com muito por descobrir”, Vasco e Guilherme decidiram dividir esforços para conquistar um “mercado de nicho” (pelo menos em Portugal e em grande parte do chamado Ocidente). Por agora, as larvas de Vasco apenas podem ser usadas nos testes da Portugal Bugs. O plano é o primeiro produzir e os segundos transformarem em barras, chocolates, granolas e, quiçá, até um gelado, apresenta Sara Martins, que se prepara para se atirar a tempo inteiro à empresa que Guilherme começou, depois de um projecto na faculdade.
“Queremos comprar localmente, queremos deixar de ter de comprar a produtores estrangeiros na Holanda e na Bélgica, porque achamos que não faz sentido dizer que é um produto sustentável e depois estarmos a comprar matérias-primas que vêm de milhares de quilómetros de distância”, explica Guilherme Pereira, que acredita que entre os consumidores ocidentais começa a existir “uma maior abertura a degustar insectos e a começar a incorporá-los na alimentação”.
Mas afinal, a que sabe o “futuro”? “A verdade é que é um sabor muito próximo ao que estamos habituados a consumir, não é nada de diferente”, reflecte Guilherme. O tenébrio é um favorito de quem se decide a experimentar. O barulho seco ao trincar as larvas denuncia o que já daria para imaginar: inteiras e depois de serem desidratadas, são crocantes e “têm um sabor característico dos frutos secos”. Ou parecem “pipocas”. Ou então “não sabem a nada”, relataram já aos criadores da Portugal Bugs. Aqui fica uma visita guiada para abrir o apetite.