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Do Porto à Palestina, para apoiarem de longe a terra onde não podem entrar
Com a bandeira que a representa pintada na cara, Nesreem resume a frustração dos jovens palestinianos numa frase: “Os sonhos deixaram de existir.”
No Porto, cerca de 500 pessoas, maioritariamente jovens portugueses, migrantes e estudantes internacionais, juntaram-se esta segunda-feira à concentração de “solidariedade pelo povo palestiniano” convocada pela CGTP, pelo Movimento pelos Direitos do Povo Palestino e pela Paz no Médio Oriente (MPPM) e pelo CPPC - Conselho Português para a Paz e Cooperação (CPPC). Ao mesmo tempo, em Lisboa, gritou-se “Palestina livre”, em coro com as manifestações que decorreram no fim-de-semana em cidades como Paris, Londres, Madrid, Copenhaga ou Tunísia.
Enquanto a violência volta a escalar, em mais um dia marcado por fortes ataques na Faixa de Gaza, Diogo Oliveira, de 21 anos, motivado pela agressão contra civis, veio pressionar o Governo português “a ficar do lado certo da História”. Lokas Cruz, 29, exigia aos estados-membros da União Europeia “medidas concretas de denúncia, de condenação e sanção a Israel, para que não haja hipótese de ser neutro numa questão que é claramente de opressão”. “Não é um conflito, é um genocídio”, lia-se no cartaz da médica e em vários outros escritos em português e inglês.
Desde a mais recente escalada de tensões entre o exército de Israel e o Hamas, o grupo islâmico xiita que controla a Faixa de Gaza, mas também entre cidadãos árabes e judeus, as autoridades palestinianas registam a morte de 212 pessoas, incluíndo 61 menores de idade, acusando Israel de bombardear edifícios não militares, entre os quais uma torre com redacções de orgãos de comunicação internacionais. Os israelitas assinalam dez mortes, entre elas dois menores, no início da segunda semana sem um cessar-fogo.
Mariam e Lujain vieram juntas da Síria para Guimarães, onde estão a doutorar-se na Universidade do Minho. “Mas não esquecemos a nossa origem e por isso é que estou cá hoje”, diz Lujain Hadba, cuja família se refugiou na Síria em 1948, aquando da fundação do Estado de Israel. As duas confiam pouco nas notícias para acompanharem os ciclos de violência e recorrem maioritariamente a vídeos e imagens nas redes sociais de locais.
“É muito angustiante sentires-te desesperançada e impotente. Veres que o teu povo está a sofrer e que nem sequer podes entrar na Palestina para ajudar”, partilha a doutoranda em arquitectura sustentável. “A única ajuda que podes oferecer é apoiar, mesmo de longe. E não ter medo de expressar o teu ponto de vista. Paz não significa ver outras pessoas a serem mortas e ficar calada. Paz significa lutar por justiça.”