Menina impedida de manter blogue onde fotografava as suas refeições escolares

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Em Portugal, o consumo de fruta entre os alunos aumentou Foto: AFP

Martha Payne criou um blogue onde fotografava as refeições servidas na cantina, classificando-as de não saudáveis a saudáveis (de 1 a 10). Na quinta-feira foi impedida de continuar o seu projecto pelo município que gere o estabelecimento escolar e escreveu um post explicando a situação. Mas, no dia seguinte, ao início da noite, Martha decidiu prosseguir com o projecto.

Tudo começou em Abril. Com a ajuda do pai, Martha começou a colocar no seu blogue imagens das refeições servidas na sua cantina, criando uma lista de itens em que as classificava em termos de qualidade, de 1 a 10. O projecto e as fotografias tiveram a autorização da escola. No blogue, cada imagem, normalmente com aspecto muito pouco apelativo, vinha acompanhada de um “comidómetro” (Food-o-meter), como o baptizou, em que a menina dizia se nesse dia a refeição era saudável. Referia ainda o preço e o número de cabelos encontrados.

Em pouco tempo, o blogue passou a ser visto por 100 mil pessoas, tendo nos últimos tempos alcançado um milhão de visionamentos, e até recebeu uma nota de encorajamento de Jamie Oliver, o famoso chef britânico tornado activista da comida saudável em meio escolar. Pouco tempo depois, os alunos da escola foram informados de que podiam comer quanta salada e fruta quisessem a acompanhar os seus almoços.

A aluna foi mais longe e pediu a estudantes de todo o mundo para lhe mandarem fotos de refeições das suas escolas, com sucesso: lá estão imagens de pratos vindos dos EUA, Taiwan, Japão e Espanha, muitas com aspecto bastante mais saudável do que as de Martha. A menina decidiu então criar um projecto em que cada leitor do blogue podia contribuir com dinheiro para fornecer refeições em África, chamado Mary’s Meal. Quando o blogue começou a ser noticiado nos jornais a controvérsia disparou, tendo alguns visto o blogue como uma crítica à má qualidade das refeições escolares e ao mau desempenho do pessoal da cozinha da escola em causa.

No seu último post, intitulado "Adeus", ontem, quinta-feira, Martha escreve que foi obrigada a abandonar o projecto, não porque a escola estivesse contra mas o município de Argyll e Bute, que gere o estabelecimento: “A autarquia refuta os ataques ao seu serviço de catering escolar que culminou em títulos da imprensa que fizeram com que o pessoal da cozinha temesse perder os seus empregos”, lê-se. O município acrescentou que todas as refeições servidas na escola “estão de acordo com os padrões nutricionais nacionais”.

Certo é que a decisão de banir o blogue criou uma chuva de críticas nas rede social Facebook e Twitter e inclusivamente uma petição pela continuação do projecto. E foi o que Martha fez, no dia seguinte, à noite, avisou os leitores que esta segunda-feira voltaria a publicar novas imagens. Quanto ao Mary’s Meal, Martha conseguiu angariar mais de 102 mil euros, um valor muito acima dos 8500 euros esperados.

Crianças portuguesas comeram mais fruta

Em Portugal, chegou ao fim a primeira edição do projecto "Heróis da Fruta – Lanche Escolar Saudável", promovido pela Associação Portuguesa Contra a Obesidade Infantil (APCOI), que envolveu 27.094 alunos de 1377 turmas de 546 jardins de infância e escolas básicas do 1.º ciclo.

O objectivo foi criar um programa educativo estruturado para motivar as crianças até aos dez anos a comerem mais fruta diariamente, uma vez que, diz a associação em comunicado, o consumo diário de fruta fresca pelas crianças destas idades “se situa apenas nos 2% a nível nacional”.

Foram contabilizadas 158.654 porções de fruta ingeridas por 6980 crianças de 352 turmas, o que significa que, em média, “cada criança ingeriu 23 porções de fruta, ao longo de seis semanas consecutivas de intervenção”. Mário Silva, presidente e fundador da APCOI afirma que “houve um aumento efectivo de 26% no consumo diário de fruta em relação ao consumo que existia”.

Segundo a Comissão Europeia, Portugal está entre os países europeus com maior número de crianças com excesso de peso: 32% das crianças portuguesas entre os seis e os oito anos têm excesso de peso e 14% são obesas, refere a associação.

Segundo o último estudo do Sistema Europeu de Vigilância Nutricional Infantil, da Organização Mundial de Saúde mais de 90% das crianças portuguesas come fast-food, doces e bebe refrigerantes, pelo menos quatro vezes por semana. Menos de 1% das crianças bebe água todos os dias.

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