Arguido revela que "olhar provocador" esteve na origem de esfaqueamento mortal de camionista na A23

O caso está a ser julgado pelo segundo dia consecutivo e envolve três jovens que estão acusados pelo Ministério Público (MP) de homicídio qualificado pelo assassinato de Nelson Ferreira, 41 anos, um camionista que seguia para França e que havia estacionado na área de serviço de Mouriscas para fazer uma pausa e tomar um café.

O arguido Emanuel, de 19 anos, disse que tudo não passou de um “acidente”, tendo afirmado que foi “provocado por um olhar” e por “bocas”, assegurando, no entanto, não ter intenção de tirar a vida a Nelson Ferreira.

“Eu não estava em mim”, disse ao juiz, tendo acrescentado que durante a noite tinha “bebido muito” com os dois amigos, Ulisses e David, de 24 e 19 anos.

Emanuel alegou que a vítima olhou para ele em “tom provocador” e que lhe terá dito “não ter medo de ciganos”.

Este “olhar” para a mesa onde estavam os arguidos despoletou uma cena de violência com murros e bofetadas dos três jovens a Nelson Ferreira, em situação que se estendeu ao exterior do estabelecimento e culminou numa facada que se viria a revelar fatal para a vítima, atingida no ventrículo esquerdo.

“Tentei acertar-lhe no braço mas ele recuou e acertei-lhe no peito”, referiu o arguido. Ulisses e David, também acusados do crime de homicídio qualificado, admitiram as agressões a Nelson Ferreira tendo afirmado ao juiz não terem ouvido provocações por parte da vítima nem visto Emanuel a esfaquear o motorista.

“Só vimos a tombar”, afirmaram.

As imagens recolhidas pelas câmaras de videovigilância da área de serviço, e que sustentaram o teor da acusação do Ministério Público, foram hoje exibidas e revelaram discrepâncias nos depoimentos dos arguidos, tendo ajudado a esclarecer que Nelson Ferreira apenas se tentou defender e nunca reagiu às agressões dos jovens.

O despacho de acusação regista que os três jovens "actuaram em conjugação de esforços com intenção de matar Nélson, o que conseguiram, fazendo-o pelo simples prazer e vontade de provocar e causar distúrbios, denotando um total, pérfido e gratuito desrespeito pela vida humana".

Nelson deixa dois filhos menores, tendo a família deduzido um pedido de indemnização cível de 485 mil euros.

O julgamento continua no próximo dia 1 de Abril.

Notícia alterada às 18h56