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Brasileiros recuperam palacete do século XIX para coworking de nômades digitais
Em casarão de antiga propriedade que incluía a maior parte do bairro das Amoreiras, Eureka Coworking atrai estrangeiros. Objetivo é juntar trabalho e quebrar o isolamento dos nômades digitais.
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Muitos dos que frequentam um charmoso palacete perto das Amoreiras, uma das áreas mais caras de Lisboa, nem imaginam o quanto de história o prédio carrega. Naquela região, conhecida como Quinta do Mineiro, viveu Manuel José Monteiro, um português que fez fortuna no Brasil e quis reproduzir, na capital lusitana, o casarão que tinha do outro lado do Atlântico. As obras foram concluídas em 1882.
Da casa, era possível ver o Aqueduto das Águas Livres, em um trecho que foi demolido para a construção da autoestrada para Cascais. A propriedade se estendia por centenas de metros em direção ao centro de Lisboa e incluía uma antiga vila construída para operários, que hoje é o Páteo Bagatella.
Após a morte de Monteiro, em 1937, o terreno foi sendo retalhado para a construção do bairro das Amoreiras. No início dos anos de 1950, o palacete tornou-se o Externato dos Maristas, sendo, depois, abandonado.
Em 2018, o casal Fanny e Daniel Moral resolveu expandir a empresa de coworking Eureka, de São Paulo para Portugal. E o local escolhido foi o Palácio Rosa, nome atual da casa de Monteiro. “É um lugar gigantesco, com um terreno muito grande”, diz Fanny. Ali estão muitos dos nômades digitais que escolheram Lisboa para viver, mas desejam um bom convívio social.
Sair da garagem
Fanny conta que a Eureka Coworking surgiu em 2013, quando ficou grávida pela primeira vez. Ela chegou à conclusão de que precisava deixar a instituição financeira para a qual trabalhava e virar empreendedora. O marido, que atuava como analista de sistemas em um banco, acompanhou a decisão.
Daniel já tinha, desde 1999, criado iniciativas para juntar pessoas, cada vez mais isoladas com a digitalização do trabalho. Primeiro, fez um portal, que se transformou em uma revista. Depois, embarcou em um projeto de passeios de bicicleta pela cidade de São Paulo. Mas faltava um local para a organização das atividades.
“Como tínhamos uma garagem grande na nossa casa em São Paulo, o espaço acabou se transformando em escritório e começamos a aceitar pessoas que queriam um lugar para trabalhar", lembra Fanny. Estava criado o modelo de negócio, tendo como inspiração a WeWork, que o casal conheceu em Nova York, num conceito que junta o espaço de trabalho com a ideia de convívio.
A Eureka cresceu e, atualmente, ocupa cinco andares na Avenida Paulista, um dos mais importantes centros de negócios da América Latina, e tem também um espaço em Campinas, cidade próxima à capital paulista, e em Lisboa.
Atravessar o Atlântico
A vinda para a capital portuguesa, há seis anos, foi estratégica. “Portugal era um lugar que olhávamos muito pelo ecossistema de startups, de inovação, do Web Summit. Além disso, a Fanny é descendente de portugueses”, afirma Daniel.
O Palácio Rosa, onde a Eureka está instalada, veio por meio de uma parceria. “Temos um sócio que nos falou que estava investindo em Portugal e que havia conseguido um imóvel que se encaixava perfeitamente na ideia da empresa. Fomos conhecer o local e as coisas deram muita liga. Juntou a nossa já pretensão de expansão internacional com a oportunidade de ir para um prédio que conhecíamos o proprietário”, relata Daniel.
Depois de todo o preparo do local, veio a pandemia da Covid-19. “A operação começou dois meses antes do lockdown. Tivemos que esperar todo mundo voltar para as ruas para que retornássemos com nossas atividades. Chegamos em 2018, mas a operação, de fato, só começou no final de 2021”, ressalta Fanny.
“Num primeiro momento, nosso investimento foi de 500 mil euros (R$ 3,2 milhões), quantia gasta, sobretudo, com a reforma do prédio e com mobiliário”, explica Daniel. Segundo Fanny, no palacete, a capacidade é de 250 pontos de trabalho, nos três pisos. Há, ainda, no terreno, um espaço de cerca de mil metros quadrados de jardim, utilizado para eventos.
Como a Eureka trabalha muito com nômades digitais, a ocupação varia. “No último relatório que peguei, a ocupação estava em torno de 95%”, contabiliza Fanny. A maior parte dos frequentadores vem do exterior. “Cerca de 65% são estrangeiros. E o idioma falado é muito mais inglês do que português de Portugal. Tem gente da Irlanda, de Luxemburgo, da Rússia, da Espanha”, acrescenta Daniel.
Além do espaço de trabalho, eles mantêm a prática de reunir as pessoas, seguindo o projeto de Daniel que vem de 1999. “Muitos são estrangeiros. Organizamos caminhadas para conhecerem um pouco de Lisboa, temos um happy hour no fim do dia, participamos da Semana da Mobilidade de Lisboa”, conta ele.