Moto e roupa tramam jovem detido por atear um dos maiores fogos do ano
Operário fabril de 24 anos terá provocado incêndio de Oliveira de Azeméis com recurso a um isqueiro, usado em três sítios diferentes. Fogo consumiu mais de seis mil hectares.
A moto de motocross que um jovem de 24 anos, operário fabril, terá usado para se deslocar enquanto ateava três diferentes focos de incêndio com recurso a um isqueiro em Ossela, Oliveira de Azeméis, terá sido determinante para a Polícia Judiciária (PJ) identificar o alegado autor daquele que acabou por se transformar num dos maiores fogos rurais deste ano. A roupa que usava também foi importante.
Nesta quarta-feira foi anunciada pela Judiciária a detenção do jovem, que afinal só será presente esta quinta-feira a um juiz no Tribunal de Instrução Criminal de Santa Maria da Feira, que lhe irá determinar a medida de coacção com que aguardará o desfecho desta investigação. A detenção ocorreu na véspera, na sequência de uma busca a casa do suspeito, onde vive com os pais e um irmão.
O rapaz terá confirmado os crimes aos inspectores da PJ, sem apresentar qualquer justificação para o seu comportamento. A investigação não encontrou indícios da participação de mais ninguém nos crimes, nem de que o suspeito tenha obtido qualquer tipo de benefício por alegadamente ter provocado as três ignições.
O jovem, solteiro, vive em Ossela, trabalhando numa empresa do sector metalomecânico da zona. Não possui qualquer antecedente criminal.
Terá provocado três ignições na tarde do dia 14 de Setembro que foram dadas como controladas nesse mesmo dia, em que terão ardido algumas dezenas de hectares. Já na madrugada de dia 15 o fogo reacendeu e só cinco dias mais tarde foi dado como dominado.
Só no concelho de Oliveira de Azeméis este incêndio consumiu mais de 6000 hectares de floresta e de mato, edifícios e outros equipamentos, acabando por convergir com os fogos que tiveram origem em Sever do Vouga e Albergaria-a-Velha no mesmo período. Muitas vias incluindo auto-estradas tiveram de ser cortadas ao trânsito, nomeadamente a A1 e a A29.
"No conjunto dos três incêndios, foi consumida uma área aproximada de 36.600 hectares, entre povoamento florestal, matos, habitações, indústrias e outros edificados, [havendo] perda de vidas, amplamente difundida pela comunicação social", refere o comunicado da Judiciária.
O coordenador Marco Oliveira, que lidera na PJ do Porto a Secção de Investigação de Crimes contra o Património e Vida em Sociedade, onde se integram os crimes de incêndio, explica que neste conjunto de fogos morreram nove pessoas, mas nenhuma das mortes esteve directamente relacionada com a ocorrência de Oliveira de Azeméis. Por isso, o jovem detido está indiciado por apenas três crimes de incêndio, um por cada ignição.
O fogo de Oliveira de Azeméis em que arderam 6170 hectares (6001 dos quais em zonas de povoamentos florestais) é considerado o quinto maior deste ano, no último relatório de incêndios rurais do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, que abarca o período entre 1 de Janeiro e 15 de Outubro. Entre os 20 maiores fogos do ano apenas um não ocorreu em meados de Setembro, quando as condições meteorológicas deixaram o país a braços com um dos piores cenários de incêndios dos últimos anos.
A 14 de Setembro passado, a Autoridade Nacional de Emergência e Protecção Civil (ANEPC) anunciou que decretou o estado de alerta especial vermelho nas regiões a norte do Tejo e no Alto Alentejo para 16 e 17 desse mês, no âmbito do dispositivo de combate a incêndios rurais. Este novo nível de alerta implicou o pré-posicionamento de meios de combate em locais estratégicos, mas nem isso evitou as várias mortes e críticas à resposta operacional da ANEPC.
Numa conferência de imprensa ao final da manhã na PJ do Porto, Marco Oliveira destacou a colaboração do Grupo de Trabalho para a Redução de Ignições em Espaço Rural – Zona Norte na resolução deste caso.