Director acusado de assédio deu “explicações” e Associação de Jazz de Leiria mantém-no no cargo

Professor afastado pelo Hot Clube há dois anos após uma queixa de assédio pôs lugar à disposição, mas maioria da direcção, à qual preside, aceitou “todos os esclarecimentos solicitados”.

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O meio do jazz português está a ser abalado por denúncias de ambiente propenso ao assédio Paulo Pimenta
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A direcção da Associação de Jazz de Leiria decidiu manter como director o professor afastado do Hot Clube após uma queixa formal de assédio no ano de 2021/2022, e que foi visado por mais queixas na imprensa nos últimos dias. A decisão foi tomada, diz a associação em comunicado, depois de o responsável ter posto o cargo à disposição.

Na mesma nota, publicada na rede social Facebook, a Associação de Jazz de Leiria responde a perguntas enviadas na quinta-feira pelo PÚBLICO, nomeadamente questionando se o mesmo professor já tinha sido alvo de alguma queixa de assédio. “Nunca o presidente desta associação (ou qualquer outro docente) foi alvo de qualquer queixa por parte de docentes ou alunas da Escola de Jazz de Leiria, nunca tendo sido relatados quaisquer comportamentos menos próprios atribuídos ao visado ou outros elementos do coro docente”, lê-se. Da associação, criada em 2011, dependem a Escola de Jazz de Leiria, inaugurada em 2023, e a Orquestra de Jazz de Leiria.

O comunicado surge após várias notícias publicadas desde sexta-feira em que o presidente da direcção é identificado como um dos dois docentes que, segundo o Hot Clube, foram afastados em 2021/2022 na sequência de duas queixas distintas de assédio. O comunicado da escola lisboeta, por seu turno, foi emitido após a queixa de violação apresentada pela DJ Liliana Cunha visando o pianista João Pedro Coelho, ex-professor do Hot Clube, e que nega a acusação de que é alvo. Apesar de Liliana Cunha não ter ligação ao jazz nem ter sido aluna do pianista, o nome da escola, onde Coelho leccionou até 2023, emergiu no âmbito de uma vaga de queixas e denúncias nas redes sociais que passou depois para a imprensa.

O director da Associação de Jazz de Leiria é o segundo nome mais visado nas queixas organizadas informalmente pela rede criada nas últimas duas semanas. Segundo os depoimentos dados a vários jornais, e ao contrário do que consta do comunicado da instituição, os comportamentos que lhe são atribuídos vão além de “publicações individuais nas redes sociais”. O PÚBLICO consultou trocas de mensagens entre o músico e então professor da escola do Hot Clube e suas alunas ou estudantes da Academia Nacional Superior de Orquestra – Metropolitana, que funcionam no mesmo edifício, e o então director pedagógico da escola do Hot, Bruno Santos, confirmou o caso ao semanário Expresso.

A direcção da associação reuniu com o visado e, “prestados todos os esclarecimentos solicitados”, conclui o comunicado divulgado esta segunda-feira, “a maioria deliberou pela não destituição do presidente. A nota da direcção indica ainda que este órgão “tem reunido amiúde, com objectivo de criar todas as condições internas para que a sua actividade decorra com a normalidade e qualidade” que diz serem sua constante. O PÚBLICO sabe que a mesma direcção reunira já no dia 9 e que o tema foi então abordado, sem que o lugar tenha sido posto à disposição e nenhuma comunicação pública tenha sido feita sobre o tema.

A direcção “condena, veementemente, os alegados comportamentos denunciados na comunicação social e reitera que é nos tribunais que tais actos devem ser julgados”. Promete encaminhar “de imediato, para a justiça, todos os casos de assédio ou outros de que tome conhecimento”, embora para já não haja qualquer denúncia a registar.

Na semana passada, o professor e vibrafonista Paulo Santo, também docente da Escola Luiz Villas Boas — Hot Clube de Portugal, comunicou via Instagram que abandonava o seu cargo de vogal da direcção da associação. “Não me revendo na posição que a Associação Jazz de Leiria adoptou, sinto-me obrigado a cessar todas as minhas funções para com esta entidade”, declarou, cessando igualmente as suas funções como músico da orquestra e docente da escola respectivas.

O PÚBLICO questionou o professor em causa, que remeteu para depois do fim-de-semana passado quaisquer esclarecimentos, bem como a Universidade de Évora, onde também lecciona, sobre o seu posicionamento perante os casos vindos a público, visto que a instituição disse ao PÚBLICO na sexta-feira que o motivo da saída do dito professor do Hot Clube lhe era desconhecido até aquele momento. Em ambos casos, não houve ainda resposta.

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