Conservadores unidos em torno de Friedrich Merz

Com mais de 30% nas sondagens, CDU está destacado na frente da corrida, valores superiores aos do chefe do partido, que poderá ser prejudicado por ser demasiado directo e demasiado rico.

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O líder da oposição, Friedrich Merz, está muito bem posicionado para ser o próximo chanceler da Alemanha Annegret Hilse / REUTERS
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A União Democrata-Cristã vai concorrer à chancelaria com o seu líder, Friedrich Merz, que durante muito tempo foi “o rival de Merkel”, que a dada altura o afastou da liderança da bancada da CDU no Parlamento, condenando-o a dez anos fora da política, tendo ressurgido após dez anos de ausência, nos quais trabalhou na consultora americana BlackRock e ficou milionário.

Depois de regressar à política, o entusiasmo da CDU pelo milionário conhecido por ter dois jactos privados (num país que não vê a opulência em geral com muito bons olhos) não foi imediato: foi eleito líder do partido apenas na sua terceira tentativa.

Nesta semana, no que foi o tiro de partida para a campanha eleitoral numa sessão no Bundestag, Merz disparou contra Scholz – mas não deixou de lançar um aparte ao grupo parlamentar da extrema-direita da AfD (“admiram-se que com esta postura não queiramos trabalhar convosco). Merz é, no entanto, precisamente acusado de por vezes se aproximar de uma certa retórica anti-imigração do partido nacionalista que está cada vez mais extremista.

O chefe da delegação do Financial Times em Berlim, Guy Chazan, lembrava como em 2022 o líder da CDU acusou refugiados ucranianos de “turismo de benefícios sociais”, sugeriu que pessoas com pedido de asilo recusado conseguiam obter tratamentos dentários caros à custa dos contribuintes, e ainda descreveu recentemente os filhos de imigrantes como “pequenos paxás”.

A CDU tem apresentado Merz como alguém que fala francamente, o que é precisamente o necessário nesta era da política mundial (Scholz, pelo seu lado, já criticou Merz por ser alguém dado a perder a calma).

Chazan refere que as gaffes de Merz são vistas como o motivo pelo qual a sua taxa de aprovação pessoal é mais baixa do que os valores do seu partido nas sondagens.

O próprio Merz sabe que muito pode mudar na campanha (afinal, uma imagem que ficou associada ao mau resultado do então candidato a chanceler Armin Laschet foi quando foi apanhado a rir durante uma visita a uma localidade afectada por cheias onde tinham morrido dezenas de pessoas). Esta semana, alertou contra a tentação de considerar as sondagens como algo muito semelhante ao resultado.

Os valores nas sondagens de Merz dão, apesar de todas as cautelas, razões de sobra para acreditar que será ele o próximo chanceler. Mas os valores das sondagens mostram uma fragmentação que não dá sinais de mudar, e o líder conservador arrisca-se a ter de negociar uma coligação não apenas com um, mas talvez com dois partidos – potencialmente o SPD e os liberais ou o SPD e os Verdes.

Com os liberais neste momento com valores de 4%, que a repetir-se na noite eleitoral significariam que o partido não teria, apenas pela segunda vez na sua história, representação parlamentar. Mas mesmo que entre, é provável que os dois partidos juntos tenham uma maioria, e nesse caso seria preciso juntar um terceiro partido (a cultura política da Alemanha implica governos de maioria).

Daí não ser estranho que o líder dos liberais, Christian Lindner, tenha criticado Merz e apresentado afirmações deste em relação a uma reforma do travão da dívida como uma forma de se aproximar do SPD e dos ecologistas.

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