Scholz e Merz abrem campanha para eleições alemãs no Parlamento
Chanceler diz que nunca obrigará os alemães a uma escolha entre segurança e prosperidade. Líder da oposição acusa-o de “viver noutro mundo”.
Nem 24 horas passaram sobre um acordo entre o Partido Social-Democrata (SPD) de Olaf Scholz e a União Democrata-Cristã (CDU) de Friedrich Merz para a data das eleições antecipadas na Alemanha, para o Bundestag ver uma sessão que já o Tagesspiegel descrevia como sendo a abertura da campanha eleitoral, com inevitáveis ataques pessoais — e foi exactamente isso que aconteceu.
A sessão destinava-se a ouvir o chanceler, Olaf Scholz, sobre a sua decisão de demitir o ministro das Finanças, Christian Linder, do Partido Liberal-Democrata (FDP), depois de o ter anunciado numa declaração zangada na semana passada, e de o Governo do SPD-Verdes-FPD, também conhecido como “coligação semáforo”, ter assim perdido a maioria parlamentar, trazendo a necessidade de eleições antecipadas (a Alemanha não tem qualquer tradição de governos minoritários, que existiram apenas em estados federados, sendo mesmo aí uma excepção).
Scholz apresentou a decisão como inevitável, dizendo que não aceita ver uma discussão em que seja apresentada uma escolha entre segurança e prosperidade, em que as verbas de apoio à Ucrânia sejam conseguidas à custa da diminuição de apoios sociais ou impliquem cortes em pensões de reforma ou saúde. “É errado dizer que ou se gasta numa coisa ou na outra”, declarou.
Merz, de quem se esperava um ataque com algum controlo (afinal, tinha recebido uma alfinetada do chanceler quando este disse, num entrevista, que o candidato da oposição perde facilmente a calma), não se coibiu de atacar pessoalmente Scholz: afirmou que o discurso em que Scholz afastou Lindner “não era digno de um chanceler”, que as suas palavras perante o Parlamento eram de quem “não vive neste mundo” e ainda comentou uma frase do chefe do Governo em que este dizia ter falado com o Presidente eleito dos EUA, Donald Trump, com um comentário de que Trump só conheceria o nome de Scholz pela cimeira do G20 em Hamburgo (em 2017, quando houve motins violentos e destruição na cidade, então governada por Scholz). “Não tem autoridade nenhuma”, disparou.
Scholz afirmou que queria evitar um ambiente de campanha polarizado na Alemanha, aludindo ao que se passa nos EUA. Merz dirigiu-se a Scholz acusando-o de ser ele “quem divide o país”.
Representando a coligação e o vice-chanceler e ministro da Economia Robert Habeck, que ficou retido em Lisboa por uma avaria no avião (Habeck participou na Web Summit na véspera), a ministra dos Negócios Estrangeiros, Annalena Baerbock, defendeu a decisão de participar na coligação semáforo: “Não o tentar teria sido o contrário de sentido de responsabilidade.”
O diário Tagesspiegel comentava que Merz tem alguma segurança, dada pela grande diferença entre a CDU e o SPD nas sondagens, mas que o candidato a chanceler sabe que não pode dar-se ao luxo de cometer erros.
O próprio Merz já afirmou que as sondagens de hoje são uma coisa e que o resultado da eleição não será igual aos valores dos inquéritos de opinião. Na sondagem mais recente, do instituto Forsa, a CDU tem 33%, a extrema-direita da Alternativa para a Alemanha (AfD) 15%, o SPD 16%, Os Verdes 11%, a Aliança Sahra Wagenknecht 8% e, já abaixo dos 5% necessários para entrar no Parlamento, o FPD tem 4% e Die Linke (A Esquerda) 3% das intenções de voto.
Embora noutra época, em que não existia a fragmentação política actual, o então chanceler social-democrata Gerhard Schröder partiu para eleições antecipadas em 2005 em grande desvantagem nas sondagens, mas o SPD foi recuperando terreno e os resultados eleitorais foram 35,2% para a CDU de Merkel e 34,2% para o SPD de Schröder.