O pânico woke
A linguagem inclusiva não desafia apenas a língua; desafia normas, relações de poder e uma visão de mundo.
Costumo apresentar a disciplina de Filosofia com o aviso de que uma parte essencial do nosso trabalho será questionar ideias que parecem evidentes, “naturais” ou que são assim “porque sempre foi assim”. Tranquilizo a minha audiência ao dizer que não perderão as suas identidades e que no fim do processo se calhar até continuarão a pensar da mesma forma, mas, pelo menos, terão refletido de forma mais emancipada. Embora seja a professora, sei que, neste exercício, serei sempre uma aluna. Quem consegue questionar todas as suas certezas, crenças, opiniões e valores? Como desconstruir todos os nossos pilares? Especialmente as ideias que nos valorizam. É nesta inquietação que consigo encontrar um terreno de diálogo com as pessoas “moderadas” que se dizem anti-woke, que não gostam do Trump, mas que me escrevem indignadas (por vezes a dar lições de Português, Biologia, História e/ou a insultar) porque não suportam palavras como “todes” ou “Presidenta”, porque LGBTQIA+ são muitas letras, porque “então agora já não posso dizer pret* e panelei*?”, então agora os homens usam saias e pintam as unhas, e as estátuas, e as canções e os filmes da nossa infância, e os bifes e as palhinhas de plástico? Pânico!
O contributo do PÚBLICO para a vida democrática e cívica do país reside na força da relação que estabelece com os seus leitores.Para continuar a ler este artigo assine o PÚBLICO.Ligue - nos através do 808 200 095 ou envie-nos um email para assinaturas.online@publico.pt.