Porque é que “todes” não é todos, nem todas?
Há um pequeno problema com isto tudo, com esta nova terminologia, com a selva de classificações e as respectivas gavetas em que cada um é metido e a obsessão pelas identidades – é que não é nem inclusiva, nem democrática.
A polémica sobre aquilo que é entendido como linguagem “inclusiva” já dura há vários anos. Toda uma série de neologismos está a crescer a cada dia, associada a uma suposta autoridade moral no seu uso. Não os usar exclui, logo coloca quem não os usa do lado do mal. A ela se acrescenta uma censura crescente de termos cuja utilização num texto ou numa notícia de jornal, suscita de imediato uma fúria censória. É caso de palavras como “preto”, “cigano”, “paneleiro”, “bicha”, “fufa”, por aí adiante. É interessante ver que “branquela” não é atingido pelo opróbrio. É verdade que muito destes termos são insultos homofóbicos ou racistas, mas o expurgo da linguagem comum de termos ofensivos empobrece-a, como se fosse possível ter uma linguagem sanitariamente pura, coisa que é mais do domínio orwelliano, ou seja das ditaduras do que das democracias.
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