As cheias em Valência são anteriores às “alterações climáticas antropogénicas”

Na região valenciana já aconteceram, pelo menos, 33 desastres do género do que agora aconteceu.

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No quadro inserido abaixo registam-se os eventos meteorológicos/hidrológicos graves ocorridos em Valência e regiões vizinhas nos séculos XX e XXI (até agora).

Em todos eles se geraram cheias que, com diverso tipo e dimensão, acabaram por determinar vítimas e prejuízos patrimoniais e funcionais. Em três casos com elevadíssima expressão.

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Em meados de Outubro de 1957, há quase setenta anos, aconteceu um desastre muito semelhante ao da actualidade.

Também ele determinou uma catástrofe, embora numa época em que as concentrações de CO2 na atmosfera ainda estivessem abaixo de 300 ppm (actualmente estão acima dos 430 ppm) e os índices de temperatura global terra-oceano (anomalia térmica relativamente à média verificada entre 1880 e 2013) estivessem à volta de 0º C. Ou seja, quando ainda não existia anomalia verificável.

Naquele mês de 1957 as chuvas intensificaram-se e saturaram o solo. Depois, em dois dias, tudo se agravou: os rios Turia (o principal), o Magro e o Chelva transbordaram, tendo-se registado caudais de 3700 m3/seg. O número de mortes ter-se-á elevado a 300 e os prejuízos a muitos milhões de pesetas.

Uma das significativas dissemelhanças é que na Valência de então viviam cerca de 500.000 pessoas e, no presente, são perto de 800.000 os habitantes. Acrescentem-se os proporcionais milhares de edifícios, equipamentos e infra-estruturas que aumentam a impermeabilização do solo e obstaculizam o escoamento hidráulico. Na área metropolitana de Valência são 1.500.000 habitantes e, na Comunidade, cerca de 3 milhões.

Acrescentar que não aconteceram apenas os oito desastres acima registados. Ao todo, antes do século XX, houve 25 desastres do mesmo género, embora com diversas proporções. Aconteceram nos anos de: 1321, 1328, 1340, 1358, 1406, 1427, 1475, 1517, 1540, 1581, 1589, 1590, 1610, 1651, 1672, 1731, 1776, 1783, 1845, 1860, 1864, 1870 e 1897. As cheias de 1776 e 1987 foram particularmente desastrosas. Antes de 1321 também houve inundações, mas, como nesse ano houve um incêndio que destruiu os Llibres de Consell, desapareceram os registos.

Ou seja, na região valenciana já aconteceram, pelo menos, 33 desastres de género semelhante ao que agora aconteceu.

Mesmo considerando a hipótese de que os efeitos do aumento da concentração do CO2 na atmosfera possam ter, via aumento das temperaturas, alguma influência no fenómeno hidrológico/meteorológico designado por «gota fria», ou DANA, isso não faz desaparecer o facto objectivo e histórico: as catástrofes aconteceram, muitas vezes, e muito antes das "alterações climáticas antropogénicas". Surgiu, aliás, uma organização designada World Weather Attribution, que estima tal aumento em cerca de 12%.

Depois de 1957 o regime de Franco promoveu o Plan Sur, obra gigantesca finalizada já no início dos anos setenta, com o qual se mudou o curso do Turia para sul da cidade, levando-o a desaguar junto ao porto através de um larguíssimo canal. Quem conhecer minimamente a região sabe que esse canal alternativo está hoje ladeado por urbanizações nas duas margens. E, o antigo leito, a norte da cidade, que estava reservado para espaço verde equipado e novos canais de circulação rodo-ferroviária, está bastante densificado.

Sabe-se que a região é pontuada por nuances no relevo (orografia) muito marcantes, deixando a vasta e quase plana huerta valenciana entalada numa bacia entre as serras e o Mediterrâneo. Isso é muito notório observando as direcções Valência-Teruel, Valência-Cuenca e Valência- Alicante.

Então, pergunta-se: por que razão responsáveis de diversos misteres apontam imediatamente como causa determinante e quase exclusiva, as alterações climáticas antropogénicas?

Não é óbvio que as causas são muito mais amplas e diversas do que as alterações climáticas, sejam as antropogénicas, sejam as de índole natural?

A preocupação central é que, quando um diagnóstico é errado ou viciado, neste caso por uma espécie de preguiça analítica compulsiva, isso determinará remédios ineficientes que geram a destruição e a perda de vidas.

Não pode deixar de se considerar difícil compreender a natureza de uma espécie de cegueira que leva tanta gente, superiormente qualificada e ocupando funções relevantes tanto no plano político como na academia, a emitir opiniões sistematicamente precipitadas e erróneas.

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