Emissões de CO2 deverão atingir novo recorde em 2024, avalia estudo global

O tão esperado pico de emissões de dióxido de carbono ainda não será atingido em 2024, adianta o Global Carbon Project. Em seis anos, haverá 50% de hipótese de passarmos consistentemente os 1,5 graus.

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Ainda não se vislumbra o esperado momento em que as emissões de gases com efeito de estufa atinjam o seu pico LOREN ELLIOTT/REUTERS
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As estimativas das emissões de dióxido de carbono (CO2) a partir de fontes fósseis deverão atingir um novo recorde de 37,4 mil milhões de toneladas em 2024, mais 0,8% do que em 2023, segundo a nova análise do Global Carbon Project (GCP), publicada nesta quarta-feira. O GCP é um projecto mundial que dá informação sólida sobre os gases com efeito de estufa, cujo aumento na atmosfera tem sido responsável pelo aquecimento global, e este é o 19.º ano em que apresentam os resultados para o CO2, o gás mais importante daquela equação, que está na base das alterações climáticas. Se forem contabilizadas as emissões de CO2 vindas do uso de terra, através de actividades como a desflorestação, então as emissões de 2024 deverão subir para 41,6 mil milhões de toneladas (gigatoneladas).

Ao terceiro dia da 29.ª Cimeira do Clima das Nações Unidas (COP29), que decorre em Bacu, no Azerbaijão, este é um renovado sinal de alerta: mais uma vez, fica adiado o tão esperado momento em que se atingiria o pico de emissões de CO2, um sinal de que finalmente a humanidade começaria a inverter o impacto acelerado que está a ter no planeta a nível das alterações climáticas. Mas não: as emissões aumentaram e o estudo aponta para uma concentração de CO2 na atmosfera de 422,5 partes por milhão (ppm) em 2024, mais 2,8 ppm do que 2023 e 52% acima dos níveis pré-industriais.

A subida torna cada vez mais exigente a mudança necessária para evitar que o aquecimento médio da atmosfera terrestre ultrapasse os 1,5 graus Celsius, comparando com os níveis pré-industriais. De acordo com as estimativas científicas, restam 235 gigatoneladas antes de passarmos irreversivelmente esse patamar. “Tendo em conta o rácio actual das emissões, estima-se que há 50% de hipóteses que o aquecimento global vá ultrapassar consistentemente os 1,5 graus Celsius em cerca de seis anos”, lê-se num comunicado da Universidade de Exeter, no Reino Unido, sobre o estudo.

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“Os impactos das alterações climáticas estão a tornar-se cada vez mais dramáticos e, no entanto, ainda não vemos nenhum sinal que a queima dos combustíveis fósseis atingiu o pico”, afirma Pierre Friedlingstein, investigador daquela universidade, que liderou o estudo, assinado por mais de 100 autores de mais de 80 instituições diferentes. “O tempo está a terminar para se cumprir os objectivos do Acordo de Paris – e os líderes mundiais que se encontram na COP29 têm de provocar cortes rápidos e profundos nas emissões de combustíveis fósseis para termos uma hipótese de ficarmos bastante abaixo dos dois graus de aquecimento.”

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A partir dos dois graus de aquecimento, estima-se que as alterações climáticas irão provocar uma cascata de efeitos no planeta que deixarão as populações muito mais expostas a fenómenos extremos.

Num dos gráficos que o GCP divulga fazem-se três projecções diferentes do esforço nos cortes daquelas emissões para a temperatura não subir além dos 1,5, ou dos 1,7, ou dos dois graus. São três curvas íngremes, mas com declives diferentes.

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Para não se ultrapassar os 1,5 graus – ou seja, não se emitindo mais do que 235 gigatoneladas de CO2 –, seria necessário atingir zero emissões líquidas já em 2036, em apenas 12 anos. Isto significa que no próximo ano, as emissões da humanidade teriam de ficar ao nível de 2020, o ano mais agudo da pandemia, quando caíram para 34,3 gigatoneladas.

Já para não se ultrapassar os 1,7 graus, teria de se emitir até 585 gigatoneladas de CO2, ao longo de 29 anos, atingido o zero líquido de emissões em 2053. Isto traduz-se numa diminuição anual em que em 2027 já estaríamos abaixo do nível de 2020. Finalmente, para não ultrapassarmos os dois graus, teria de se emitir até 1110 gigatoneladas de CO2 em 54 anos, até 2078. Para isso, por volta do ano de 2029, as emissões já teriam que estar abaixo do nível de 2020.

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Reduções insuficientes

O que se espera é que estes cortes sejam acompanhados por um aumento das energias verdes, como já está a acontecer. Mas não ao ritmo suficiente perante o crescimento das necessidades energéticas dos países, que globalmente tiveram que recorrer a um maior consumo de combustíveis fósseis em 2024. Assim, face a 2023, houve um aumento de 2,4% nas emissões vindas da queima do gás natural, 0,9% do petróleo e 0,2% do carvão, de acordo com as estimativas para 2024 do novo estudo. O gás natural deverá contribuir 21% das emissões de CO2 deste ano, o petróleo 32% e o carvão 41%.

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A nível mundial, o estudo avalia que as emissões chinesas terão aumentado 0,2% face a 2023, contribuindo para 32% do total das emissões de 2024, as dos Estados Unidos diminuíram 0,6%, contribuindo 13%, as da Índia subiram 4,6%, representando 8% do total, as da União Europeia desceram 3,8%, colmatando 7% do total e as emissões do resto dos países aumentaram 1,1%, contabilizando 38% das emissões globais.

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“A acção climática é um problema colectivo, e enquanto a redução gradual de emissões está a ocorrer em alguns países, há aumentos a ocorrerem noutros”, explica por sua vez Glen Peters, outro autor do estudo, investigador no Cícero — Centro para a Investigação Climática Internacional, em Oslo, na Noruega, citado num comunicado daquele centro. “O progresso em todos os países tem de acelerar suficientemente rápido para colocar as emissões globais numa trajectória descendente em direcção ao zero líquido.”