Morreu o antifascista Camilo Mortágua aos 90 anos

O pai de Mariana e Joana Mortágua, deputadas do Bloco de Esquerda, foi uma importante figura na luta contra a ditadura do Estado Novo.

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Morreu Camilo Mortágua. Antifascista tinha 90 anos Enric Vives-Rubio
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O antifascista Camilo Mortágua, pai das deputadas do Bloco de Esquerda Mariana e Joana Mortágua, morreu, esta sexta-feira, 1 de Novembro, aos 90 anos, segundo uma nota enviada à Lusa pela família.

"A família informa que Camilo Mortágua morreu esta madrugada, dia 1 de Novembro, aos 90 anos. Partilhamos com os muito amigos e companheiros que se cruzaram com Camilo Mortágua a alegria de termos testemunhado uma vida de convicções, de compromisso com a liberdade e com a solidariedade", pode ler-se na nota.

De acordo com as informações avançadas, o velório decorre esta sexta-feira a partir das 17h30 na Casa Mortuária de Alvito (Rua da Misericórdia). O funeral está marcado para sábado, às 11h, partindo da casa mortuária para o cemitério de Alvito (distrito de Beja).

Ambas as deputadas bloquistas recorreram ao Instagram para avançar as informações relativas ao velório e funeral. Joana e Mariana Mortágua partilharam uma foto do pai, Camilo Mortágua, em jovem.

Joana Mortágua, numa outra publicação, acrescentou uma foto em criança e uma em adulta junto ao pai. "Há nomes tão fortes que a morte só leva emprestado. Camilo Mortágua é um deles", escreveu.

"Lutador contra a ditadura"

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, já manifestou o seu pesar às deputadas Mariana e Joana Mortágua pela morte do pai, recordando-o como um "lutador contra a ditadura". Numa nota publicada no sítio oficial da Presidência da República na Internet, o chefe de Estado apresenta o seu pesar "às deputadas Mariana e Joana Mortágua e restante família, amigos e admiradores de Camilo Mortágua". No texto, Marcelo Rebelo de Sousa recorda Camilo Mortágua como um "lutador contra a ditadura durante muitas décadas do século passado" que morreu hoje "ao fim de uma longa e multifacetada vida ao serviço dos ideais que abraçava".

Natural de Oliveira de Azeméis, Camilo Mortágua emigrou para a Venezuela em 1951, com 17 anos. Foi a partir desse país que começou a lutar contra o fascismo em Portugal, integrou a Direcção Revolucionária Ibérica de Libertação e participou no assalto ao navio Santa Maria, em 1961, sob o comando do capitão Henrique Galvão.

Nesse mesmo ano, juntamente com o revolucionário Palma Inácio e outros antifascistas, desviou um avião da TAP no percurso entre Casablanca (Marrocos) e Lisboa para largar sobre a capital portuguesa 100.000 panfletos contra o regime salazarista.

Já em 1967, esteve envolvido num assalto à filial do Banco de Portugal na Figueira da Foz para financiar a actividade antifascista. Nesse mesmo ano, está na fundação da Liga de Unidade e Acção Revolucionária (LUAR).

Após a revolução de 25 de Abril de 1974, dinamizou a ocupação da Herdade da Torre Bela, no Ribatejo, da qual resultou a criação da cooperativa Torre Bela. Concentrou então a sua atenção no desenvolvimento rural e local desde a vila de Alvito, no Alentejo, onde se fixou nos anos 80 do século XX e da qual Mariana e Joana Mortágua são naturais.

Em 1991 fundou a Associação Terras Dentro, nas Alcáçovas, e foi presidente da Presidente da Associação para as Universidades Rurais Europeias (APURE). Camilo Mortágua publicou as suas memórias em dois volumes, intituladas Andanças para a Liberdade, nas quais percorre a sua vida desde a infância na Beira Litoral até ao 25 de Abril.