Camilo Mortágua localizado em Castelo Branco
Pai das deputadas do Bloco de Esquerda esteve desaparecido desde a manhã de domingo.
Camilo Mortágua, dado como desaparecido desde domingo de manhã, foi localizado em Castelo Branco e encontra-se bem, disse fonte da Protecção Civil esta segunda-feira.
De acordo com fonte do Comando Distrital de Operações de Socorro (CDOS) de Beja, o homem, pai das gémeas Mortágua, deputadas do Bloco de Esquerda, foi localizado “em Castelo Branco” e “está bem”. A informação foi recebida pelo CDOS às 0h53, tendo por base os Bombeiros de Alvito, que receberam a informação da GNR local.
Camilo Mortágua, antifascista e dirigente da LUAR – Liga de Unidade e Acção Revolucionária, esteve desaparecido desde a manhã deste domingo. Um amigo da família revelou ao PÚBLICO o paradeiro do homem de 87 anos.
O desaparecimento do pai de Mariana e Joana Mortágua, deputadas e dirigentes do Bloco de Esquerda, foi comunicado durante a manhã pela mulher do próprio à GNR. Camilo Mortágua saiu do Alvito, onde vive há mais de 40 anos, numa velha carrinha, presume-se que em direcção à cidade de Aveiro, onde tem familiares, mas a sua ausência causou consternação porque o seu telemóvel dava sinal de desligado. As buscas estenderam-se aos concelhos de Ferreira do Alentejo, Cuba e Beja.
Camilo Mortágua escolheu Alvito para residir depois de um percurso de grande envolvimento na luta política contra o antigo regime.
O assalto ao paquete Santa Maria e à dependência do Banco de Portugal na Figueira da Foz, o desvio de um avião da TAP e a ocupação da Torre Bela (já depois da queda do regime) são alguns dos actos imputados ao antifascista, que viveu exilado no Brasil e em França (a LUAR foi fundada em Paris) e que se mudou para o Alentejo nos anos 80, depois de ter se ter envolvido no Processo Revolucionário em Curso (PREC).
Em 2015, quando as suas filhas começaram a ganhar visibilidade na política, os três deram uma entrevista ao PÚBLICO. Nela, o pai falou sobre o seu passado e as filhas sobre o peso do apelido. “Há uma coisa de que me orgulho muito, não é do que fiz, mas é sobretudo da maneira como foi feito e da maneira como isso pode servir para o futuro. O que eu me orgulho é de, com a idade que tenho, nunca me ter corrompido. Disso eu orgulho-me”, dizia o pai.
“Ser filha de Camilo Mortágua é giro. O meu pai, independentemente do que é a sua história, é uma pessoa gira”, assumia Joana, garantindo que nunca teve dificuldade em compreender as opções do progenitor e que ele “é um orgulho e uma inspiração”. “Se eu não compreendesse as razões que o levaram a fazer o que fez, talvez tivesse de justificar, mas as razões políticas explicam.” Na mesma lógica, Mariana dizia: “Nunca senti peso do nome, gosto muito do meu nome e tenho orgulho em usá-lo, é o nome do meu pai, sinto-me tão confortável, mesmo quando olham de lado, honestamente não me incomoda. A Joana está sempre a dizer que há um Mortágua ‘pide’ e um revolucionário; ainda bem que somos filhas do revolucionário.”
Na altura da entrevista ao PÚBLICO, Camilo Mortágua tinha 81 anos e continuava a dizer que toda a sua intervenção política tinha valido a pena. “Isso não se discute. É evidente que valeu a pena, com erros e defeitos. A evolução humana faz-se de pessoas a ir em frente, mesmo quando não é seguro o passo que se dá.”
Notícia actualizada às 8h01 de 10 de Janeiro: noticiada localização de Camilo Mortágua