Cartuxa lança novo Pêra-Manca tinto. Edição de 2018 custa 350 euros

O Pêra-Manca Tinto 2018, apresentado esta terça-feira em Évora, é fruto de um ano difícil, quente e seco, com uma produção bem mais curta e custa mais 75 euros do que a última edição do icónico vinho.

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A Fundação Eugénio de Almeida lançou nova edição do Pêra-Manca tinto (fotografia de arquivo) Mário Cruz
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A Adega Cartuxa, da Fundação Eugénio de Almeida (FEA), apresentou esta terça-feira em Évora a mais recente edição de um dos vinhos portugueses mais icónicos de sempre. O Pêra-Manca 2018 é filho de "um ano difícil", quente e seco, mas conseguiu 'nascer' fresco e com uma acidez notável que mascara o seu grau alcoólico: 15,5%. Custa 350 euros na loja da Cartuxa, na Quinta de Valbom, e é uma edição de 21 mil garrafas, pouco mais de metade ficarão em Portugal.

A FEA poderia facilmente ter subido o preço do seu vinho mais premium, alinhando a sua estratégia de preço com outros vinhos do mesmo segmento (o último Barca Velha, desde sempre comparado ao Pêra-Manca tinto, e vice-versa, foi colocado à venda, na 'origem', a 860 euros), mas, justificou ao PÚBLICO João Teixeira, director comercial da Cartuxa, a adega pertence "a uma fundação que tem uma preocupação social de desenvolver a região a nível cultural, social e educativo" e quer "democratizar", dentro do possível, o acesso àquilo que produz, Pêra-Manca incluído.

"O ano de 2018 foi um ano muito difícil, com muita falta de água, com uma Primavera e um Verão bastante secos, em que as videiras tiveram muita dificuldade em mostrar exuberância foliar e em que o potencial produtivo também não era enorme", começou por explicar, à mesa, posta por entre os cascos da Adega Cartuxa, o director de enologia, Pedro Baptista. Essa circunstância "obrigou a intervir nas parcelas" de Aragonez e Trincadeira (que no 2018 domina o lote, com 55%) que dão origem ao Pêra-Manca Tinto, mas também noutras, e a reduzir a produção, que já de si era mais curta que na anterior edição do vinho (2015), em que a FEA fez sair para o mercado 44 mil garrafas da sua maior referência.

A vindima deste 2018 aconteceu a partir da segunda semana de Agosto e prolongou-se por cerca de um mês, partilhou Pedro Baptista. O vinho estagiou em balseiros de carvalho francês noutra adega, a de Monte de Pinheiros, também em Évora, e depois, já em garrafa, nas caves do Convento da Cartuxa, também propriedade da FEA. A decisão de o engarrafar como Pêra-Manca "foi tomada há quatro anos", acrescentou o responsável, que dirige a enologia da Cartuxa desde 2004 e cuja relação profissional com a FEA remonta já a 1997 — nesses anos, esteve à frente da parte agrícola da fundação. Nos anos em que as uvas que dão origem a este vinho de excepção não se apresentam à altura do Pêra-Manca, essa matéria-prima vai ora para o Cartuxa Colheita ora para o Reserva.

Pelo menos no espaço da Cartuxa, o vinho custa então 350 euros — mais 75 do que na edição anterior —, mas "com duas condições", observou, em declarações ao PÚBLICO, João Teixeira. "Só vendemos uma garrafa por visitante e visitante para nós é alguém que marca uma visita aqui na Adega Cartuxa, faz a visita connosco, conhece a nossa história, entra dentro do que é a história da Cartuxa e da Fundação Eugénio de Almeida e faz a prova final de cinco vinhos. Terminando essa prova, na loja, se quiser, tem a possibilidade de comprar uma garrafa de Pêra-Manca." A ideia é fazer crescer o número de embaixadores, ao invés de simplesmente aumentar a base de dados do cliente particular. Sendo que em garrafeiras e restauração, o vinho sairá, naturalmente, mais caro.

No enoturismo de Évora estarão disponíveis 3.000 garrafas, de um total de 11 mil que a FEA destinou à "venda dentro das fronteiras de Portugal". O resto irá para os diferentes mercados de exportação, nomeadamente para o Brasil (6.000 garrafas) e os EUA. A Cartuxa está "a projectar" terminar o ano de 2024 "com uma facturação de 27 milhões de euros, com o Brasil a representar 30%" do negócio, revelou João Teixeira.

O Pêra-Manca Tinto 2018 foi lançado há dias pela primeira vez no Brasil, tal é a importância daquele mercado. Por cá, foi apresentado num jantar confeccionado pelo chef Leopoldo Calhau, da Taberna do Calhau, e pela sua equipa. E, um bocadinho em contracorrente com o que costuma acontecer em eventos do género, o foco foi colocado no vinho a apresentar. Foram servidos apenas mais três vinhos para além do Pêra-Manca tinto (um deles foi o Pêra-Manca Branco 2022) e para cada vinho houve mais do que um prato, com o objectivo de mostrar a versatilidade dos diferentes vinhos. Como tão bem expôs Leopoldo Calhau, "no Alentejo, menos é mais".

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