Memórias debaixo de água

Uma história terna sobre o que fica do que passa e, sobretudo, sobre saber valorizar o que de melhor nos aconteceu. Mesmo que esteja submerso.

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“Ao longo de anos e anos, o nível do mar tem subido” Kunio Katô
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“A esposa do velho homem usava sempre um avental vermelho para cozinhar. Agora, ele põe-no quando frita peixe” Kunio Katô
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“Numa manhã de Inverno, o velho homem acordou e descobriu que o mar tinha subido ainda mais” Kunio Katô
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“Decidiu mergulhar mais fundo até à casa de baixo e depois até à casa abaixo dessa. Em cada uma, encontrou memórias” Kunio Katô
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“Todos os barcos desfilavam e a música ecoava em cada esquina. Cada família cozinhava uma iguaria deliciosa para partilhar com os vizinhos” Kunio Katô
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Capa do livro A Casa dos Pequenos Cubos, editado pela Alfarroba Kunio Katô
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Livro criado a partir de um filme que foi premiado com o Óscar de Melhor Curta-Metragem de Animação em 2009, A Casa dos Pequenos Cubos conta a história de um velho que continua a viver numa cidade completamente mergulhada nas águas do mar.

“Ao longo de anos e anos, o nível do mar tem subido. A água sobe e sobe e em pouco tempo a casa acaba submersa. Quando a casa é tomada pelos peixes, é preciso construir uma nova casa em cima da antiga”, descreve-se logo de início.

Sem parar, a subida do oceano obriga a que se vão sobrepondo novas casas, “empilhadas como cubos de construção para crianças”. E o velho lá as vai edificando.

Certa manhã de Inverno, o soalho da sua casa voltou a inundar-se. Estava na altura de ir buscar as ferramentas e pôr mãos à obra mais uma vez. Mas as ferramentas caíram pela escotilha que tinha no chão, por onde pescava todos os dias o seu pequeno-almoço. Vestiu o fato de mergulho e nadou por entre as casas em que vivera antes.

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“Para ficarem acima do mar, as casas têm de crescer cada vez mais alto, empilhadas como cubos de construção para crianças” Kunio Katô

Desde “a última casa onde tinha vivido com a sua esposa”, logo abaixo do “cubo” em que habitava agora, até à mais profunda, a primeira “de muitas que construíram juntos”.

Neste mergulho no mar e no passado, também recordou a antiga cidade em festa: “Todos os barcos desfilavam e a música ecoava em cada esquina. Cada família cozinhava uma iguaria deliciosa para partilhar com os vizinhos. Todos ansiavam pelas tartes da sua esposa, e os netos ficavam a pé muito além da hora de deitar.”

Cada uma das casas agora sobrepostas se tinha tornado um lar, preenchido “com amor e memórias”. Aquela em que viviam quando a filha mais velha casou, a outra de onde o gato desapareceu ou a que viu nascer o primeiro filho, “o velho homem e a sua esposa eram tão jovens e a paternidade era um mundo novo”.

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“Esta foi a primeira casa de muitas que construíram juntos” Kunio Katô

Ambiente triste e nem por isso

Kunio Katô é japonês, nasceu em 1977, tornou-se conhecido pela curta-metragem em que se baseia este livro, mas também assina uma aventura de sonho surrealista, The Diary Of Tortov Roddle, informa a editora Alfarroba. Kenya Hirata é um guionista também japonês que tem no seu historial filmes como Hard Days (2023) e Jun: A City That Changes (2022).

Em A Casa dos Pequenos Cubos, as imagens que vão acompanhando a história envolvem-nos num ambiente onírico tranquilo, sendo ao mesmo tempo triste e nem por isso.

Há um sentimento feliz nas aguarelas quando recuam às vivências em família e em comunidade e aos cenários de antigamente.

Um livro que convida ao exercício de nos concentrarmos nas memórias que realmente importam e de as trazer à superfície.

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