Piroverões, pirómanos e piroirresponsáveis. A Madeira da nossa desgraça

O que leva os portugueses, em pleno século XXI, a correr à festa quando esta se anuncia com foguetes de pólvora e explosão?

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Em épocas em que as comunicações eram feitas de boca-a-boca, ou por mensageiros, os foguetes anunciavam, à distância, eventos e festas sociais. Os foguetes aliavam algum espanto social com utilidade. Hoje, o lançamento de foguetes é um ato arcaico, despido de qualquer sentido. Sentem os cidadãos portugueses do século XXI fascínio pelo lançamento de foguetes ou pela sua explosão? Não creio. É o foguete um meio de comunicação indispensável para anunciar atos ou festas sociais? Seguramente não. Na época da Internet e das redes sociais as novidades e os programas das festas chegam a qualquer parte do mundo em segundos. Porque continuam as festas e romarias do nosso país a lançar foguetes como se fossem o oxigénio que permite a festa respirar?

Vem esta introdução a propósito do alegado envolvimento de um foguete como causa direta do medonho incêndio que cobriu de negro a Madeira e nos deixou com a lamentável gestão política e operacional no combate ao incêndio. A Madeira, agora com políticos isolados e sós, achou dispensável o pedido atempado de ajuda para travar o incêndio antes do total descontrolo.

O Presidente do Governo Regional hesitou na ação entre o combate ao incêndio e as suas merecidas ou imerecidas férias no Porto Santo. Perante a impotência e o descontrolo da situação, depois de reconhecer que precisava de ajuda, apressou-se a atiçar culpas do incêndio aos pirómanos. Declarou ter
fortes suspeitas de ter sido fogo posto. Mesmo quando confrontado com relatos que associaram o lançamento de foguetes, oficialmente autorizados, em dia de risco máximo de incêndio, continuou a defender a tese do fogo posto. Na Madeira a consciência dos políticos pesa, mas não lhes tira o sono, nem as férias.

Em Portugal, sobretudo depois dos terríveis incêndios de 2017, implementaram-se medidas importantes de prevenção de incêndios, que incluem a limpeza de matos, a proibição de queimas e queimadas, proibição de fazer fogo e até a proibição do uso de algumas máquinas agrícolas em dias de risco máximo de incêndio. Fica a pergunta da perplexidade.

Como se pode permitir o lançamento de uma cana de fogo e explosão sobre as florestas deste país, em dias de risco máximo de incêndio?..., nós que vivemos uma sucessão de piroverões! Não bate a bota com a perdigota.

Os foguetes são responsáveis por poluição sonora e ambiental, por grande número de acidentes e de lesões nas pessoas que os manuseiam, causam incêndios rurais, causam perturbação em animais domésticos (especialmente cães) e animais selvagens, com risco de fuga, risco de desorientação e que causam acidentes diversos, que vão desde atropelamentos de animais em fuga à morte de centenas de aves após lançamento de foguetes em período noturno.

O mercado dos foguetes pode inovar e adaptar-se às novas abordagens. Podem adotar soluções sem explosão e implementar sistemas modernos com utilização de drones para criar espetáculos de luz e cor.

Na Madeira da nossa desgraça sobrou um desastre ambiental de enormes proporções. Com o fogo ardeu em grande parte o enorme investimento feito na recuperação de espécies emblemáticas como a endémica Freira-da-Madeira, ou parte do património da bioesfera queimado com a relíquia da floresta Laurissilva da Madeira. Ficam as arribas instáveis, os solos postos a nu, a terra exposta às próximas chuvadas. A tudo isto opinam os políticos
piroirresponsáveis. Foi fogo posto senhores, foi fogo posto.

A Madeira ardeu... os políticos da Madeira ardem, mas assobiam para o lado.

E nós? Vamos continuar a conviver com foguetes lançados no verão, ou vamos virar a
página para o século XXI?

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