Brasileiros querem imóveis com academia, varanda gourmet e suítes. Empresas atendem

Construtoras em Portugal estão adaptando imóveis ao gosto dos brasileiros. Academias, lavanderias, suítes, varandas goumerts e serviços de hotelaria ganham espaços em prédios e condomínios fechados.

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Mercado da construção civil de Portugal se adequa às exigências de brasileiros, que querem uma série de serviços nos empreendimentos Daniel Rocha
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O apetite dos brasileiros por imóveis em Portugal está provocando uma mudança no estilo de construção de casas e apartamentos no país. Se antes do recente fluxo migratório do Brasil para o outro lado do Atlântico os empreendimentos tinham características mais espartanas, agora, o luxo começa a se fazer presente.

Os condomínios fechados estão sendo ofertados com academias de ginástica, quadras de tênis, lavanderias e outros serviços. Nos prédios, os quartos dos apartamentos, em maioria, são suítes e as varandas estão preparadas para ter churrasqueiras, verdadeiras áreas gourmets. Há, ainda, prédios em que a propriedade de um imóvel pode ser dividida entre oito pessoas.

“Adequamos nossos produtos ao gosto dos brasileiros, mas que agrada os clientes de todas as nacionalidades”, diz Cecília Zon, presidente da Incorporadora Invite, que prevê inaugurar, neste mês de setembro, seu primeiro empreendimento em Lisboa, o Camilo 25. A empresa comprou um antigo palacete todo em Arte Nouveau para transformá-lo em um prédio residencial, mas com serviços de hotelaria.

Os imóveis, que vão de 70 a 230 m2, custam entre 999 mil euros e 2,9 milhões de euros (R$ 6 milhões e R$ 17,5 milhões). E os proprietários poderão indicar o que querem ter à disposição, de um carro na garagem a um jantar feito por um renomado chef. “Por isso, nosso produto é tão diferenciado do mercado”, acrescenta.

Mais da metade do empreendimento já foi vendida, e os principais compradores são brasileiros. Há apartamentos que têm até oito donos. Ou seja, o valor foi rateado entre todos e cada um terá direito de usufruir do imóvel por 15 dias no primeiro semestre do ano e outros 15 dias no segundo. Também há possibilidade de a ocupação ser feita uma vez por ano, com 30 dias corridos.

“Trouxemos esse conceito para Portugal, que tende a se tornar uma tendência”, afirma Cecília. Ela conta que a preocupação em fazer do prédio um diferencial, que houve a preocupação de se contratar a artista plástica Ana Paula Castro para produzir uma escultura baseada na obra do escritor português Camilo Castelo Branco, que dá nome ao residencial.

A perspectiva da CEO da Invite é de que, com a vinda de brasileiros endinheirados para Portugal — a estimativa é de que haja mais de 700 cidadãos oriundos do Brasil com patrimônio líquido superior a 1 milhão de euros (R$ 6 milhões) em território luso —, outros projetos na mesma linha sejam levados adiante no país.

“Estamos abertos a boas oportunidades”, ressalta a executiva. Contudo, no entender dela, é preciso que a burocracia portuguesa seja menos pesada para que os investimentos possam decolar. “Até chegarmos a esse momento do Camilo 25 foi uma luta, com muito vaivém no licenciamento do projeto e dificuldades com a mão de obra”, conta.

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Cecília Zon, da Incorporadora Invite, lança um empreendimento de alto luxo em Lisboa. Brasileiros são principais clientes Vicente Nunes

Novos perfis

Diretor da Incorporadora Overseas, Nuno Coelho, diz que o mercado da construção civil em Portugal está vivendo um processo de adaptação aos novos perfis de clientes, que incluem os brasileiros e os norte-americanos. “Esses dois grupos preferem imóveis novos, ao contrário dos franceses, que gostam de recuperar empreendimentos com história”, descreve. Ele reconhece, porém, que há limitações para que os projetos tenham todas as características desejadas pelos potenciais compradores.

“Tínhamos planejado um prédio com elevadores privativos, que deixariam os moradores dentro das salas dos apartamentos, mas não houve aprovação dos órgãos competentes, sob a alegação de que é preciso que haja um hall para facilitar a fuga em caso de incêndios”, relata. O jeito foi fazer adaptações no empreendimento.

Para o executivo, as construções de hoje devem ser flexíveis a fim de atender a todos os gostos. “Não podemos focar somente em um público, mas não há dúvidas de que a influência brasileira está clara nas novas construções”, reforça. Ele acrescenta que, 10 anos atrás, Lisboa não estava no mapa dos endinheirados do Brasil. “Não havia esse público em Portugal. Essas pessoas iam todos os anos direto para Paris. Agora, querem fazer uma parada na capital portuguesa, e isso implica em ter um imóvel na cidade”, destaca.

Tradicionalmente, o principal mercado da Overseas é Lisboa. “Mas estamos vendo oportunidades no Alentejo”, diz Nuno Coelho. Segundo ele, a empresa atua tanto em Portugal quando no Brasil, o que facilita muito identificar o que os consumidores querem em termos de imóveis. “Acompanhamos, há mais de 20 anos, as movimentações de mercado. Vimos, por exemplo, uma leva de brasileiros de menor renda migrar para Portugal por um período. Neste momento, o que observamos são pessoas com mais dinheiro saindo do Brasil em busca de segurança”, frisa, ressaltando que, por conta desse movimento, empresas brasileiras vêm demonstrando o desejo de atuar em Portugal.

Formas de pagamento

A mudança no perfil do mercado da construção em Portugal também é visível nos negócios da Conexão Europa Imóveis. O CEO da empresa, Tiago Prandi, conta que tem sido acionado por brasileiros para buscar casas e apartamentos que tenham configurações mais parecidas com as que se vê no Brasil.

“Um exemplo disso são os imóveis de dois quartos, que, em Portugal, tradicionalmente, só têm um banheiro. Para os brasileiros, é preciso dois banheiros completos, com chuveiros”, afirma. “Outro detalhe: os brasileiros detestam banheiras, que eram obrigatórias nas construções portuguesas em pelo menos um banheiro, mas não são mais”, emenda.

Prandi ressalta, ainda, que, além de apartamentos com três suítes, os brasileiros querem um lavabo para ser usado pelas visitas. Há pedidos para closets amplos. “Tudo deve ser novo, de preferência, inclusive nos prédios que passaram por recuperação total”, explica. “Outro ponto interessante é que as empresas de construção estão oferecendo novas formas de pagamento. Em vez, por exemplo, de os clientes pagarem 40% das obras até a entrega das chaves, agora, pode-se dar apenas 10% de entrada e quitar os 90% restantes na entrega do imóvel”, diz.

Na opinião de Prandi, todas essas adaptações vieram para ficar, pois, entre os estrangeiros que compram imóveis em Portugal, os brasileiros vêm alternando a liderança, mês a mês, com os norte-americanos. “Há muita gente do Brasil realmente disposta a comprar um bom imóvel em Portugal, mas dentro das características que consideram as mais adequadas. Há preocupações até com terremotos”, complementa.

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