Israel faz pelo menos dez mortos na Cisjordânia e aumenta receios de mais uma frente de guerra

Forças de Israel lançaram operação em Jenin e Tulkarem esta madrugada. Investida já resultou na morte de nove palestinianos na Cisjordânia. Serviços de socorro com dificuldades em chegar aos feridos.

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Um homem palestiniano inspecciona a área atingida por um ataque aéreo israelita no campo de refugiados de Nur Shams, perto da cidade de Tulkarem, na Cisjordânia ALAA BADARNEH / EPA
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As Forças de Defesa de Israel anunciaram nesta quarta-feira a morte de nove palestinianos durante "uma operação de luta contra o terrorismo" no Norte da Cisjordânia ocupada. As autoridades de saúde da Palestina confirmaram depois a morte de mais uma pessoa durante o dia. A operação foi lançada pelo exército israelita durante a madrugada em Jenin, Tulkarem e em Tubas. Especialistas alertam para a possibilidade de mais uma frente de violência, a que se soma a guerra em Gaza e a tensão com o Hezbollah.

O Ministério da Saúde da Autoridade Palestiniana já tinha mencionado que dois homens de 25 e 39 anos tinham sido mortos pelas “forças de ocupação” em Jenin. Além disso, o Crescente Vermelho Palestiniano recuperou os corpos de três pessoas que estavam num veículo que foi bombardeado por um drone na cidade de Sir, localizada entre Jenin e Tubas.

Outros quatro homens morreram quando foram bombardeados por um drone israelita no campo de refugiados de Al Fara, a sul de Tubas, avançou a agência de notícias palestiniana WAFA. Fontes indicaram à mesma agência que os serviços de emergência estão a ter dificuldades em chegar às vítimas, porque o campo de refugiados foi cercado pelas forças israelitas. Tanques israelitas cercaram também os hospitais Al Isra e Thabet, em Tulkarem, tendo mesmo revistado um veículo médico.

"Temos de lidar com a ameaça tal como lidamos com as infra-estruturas terroristas em Gaza, incluindo a retirada temporária dos residentes palestinianos e todas as medidas necessárias", escreveu o ministro dos Negócios Estrangeiros, Israel Katz nas redes sociais. Por seu lado, Kamal Abu al-Rub, o governador palestiniano de Jenin, disse que as autoridades israelitas tinham informado os seus homólogos palestinianos de que estavam a impor um recolher obrigatório em algumas zonas da cidade. As forças israelitas cercaram os hospitais, as entradas e as saídas da cidade, disse ao jornal The New York Times. “As pessoas estão a viver num estado de terror e ansiedade”, disse Abu al-Rub.​

O movimento Jihad Islâmica acusou Israel de "lançar uma agressão total contra o Norte da Cisjordânia ocupada, numa guerra aberta e não declarada" e alegou que o objectivo final de Israel é anexar a região. “A ocupação comete os seus crimes à luz da escandalosa inacção árabe, internacional e popular. A operação decorre enquanto a ocupação continua a cometer massacres genocidas em Gaza, ignorando os pedidos internacionais”, disse o movimento, num comunicado citado pelo jornal Filastín.

Os confrontos na Cisjordânia aumentaram acentuadamente desde o início da guerra entre Israel e o Hamas em Gaza, após o ataque de 7 de Outubro. Israel intensificou as operações contra os grupos militantes armados no território, enquanto os colonos judeus têm lançado frequentes ataques contra as comunidades palestinianas.

Os braços armados do Hamas, a Jihad Islâmica e da Fatah afirmaram, em declarações separadas, que estavam a detonar bombas contra veículos militares israelitas enquanto lutavam contra as forças israelitas nas três zonas da Cisjordânia, escreve, nesta quarta-feira, a Reuters.

Receios de uma nova frente

Para Julian Borger, especialistas em assuntos internacionais no diário britânico The Guardian, os raides das IDF "representam a crescente inquietação de Israel de uma terceira frente cada vez mais importante", à medida que as suas forças operam em Gaza e no Norte contra o Hezbollah. Segundo o jornalista, a Cisjordânia está a ser alvo de "radicalização" pela escalada de violência na Faixa de Gaza, onde já morreram mais de 40 mil pessoas.

Além disso, escreve Borger, um outro elemento que tem contribuído para o aumento da tensão na Cisjordânia é a "brutalidade dos colonos radicais israelitas que procuram apoderar-se das terras palestinianas, aterrorizando os seus residentes", sem serem controlados pelas forças de segurança israelitas.

De acordo com números apresentados pelo NYT, que utiliza números das Nações Unidas, desde o ataque do Hamas em Israel, a 7 de Outubro, morreram na Cisjordânia mais de 580 palestinianos. Muitas das mortes aconteceram, em Jenin ou no seu campo de refugiados, durante muito tempo bastiões dos grupos armados Hamas e Jihad Islâmica; em Tulkarm, uma cidade da Cisjordânia perto da fronteira israelita.

Hassan Barari, professor de Assuntos Internacionais na Universidade do Qatar, disse, nesta terça-feira, à Al Jazeera que “os israelitas pensam que esta é uma oportunidade de ouro para aplicarem sem controlo [na Cisjordânia] algumas tácticas já usadas em Gaza”. Para Barari, o governo israelita considera que os palestinianos devem partir e que a forma de o conseguir é atacando-os e expandindo os colonatos.

“Há muito tempo que estão a fazer isto. Netanyahu deixou-o perfeitamente claro, Smotrich, Ben-Gvir também. Até o ministro dos Negócios Estrangeiros, Israel Katz, que se esperaria ser ainda mais diplomático, fala constantemente de retiradas e usa esta frase de que as infra-estruturas do Irão estão na Cisjordânia, o que é uma piada”, explica o especialista.

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