ONU anuncia novas dificuldades de ajuda em Gaza

Nos últimos dias, as forças israelitas emitiram várias ordens de evacuação na Faixa de Gaza, o maior número desde o início da guerra.

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Zona de deslocados em Deir al-Balah Ramadan Abed / REUTERS
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As Nações Unidas estão com ainda maiores dificuldades em distribuir ajuda na Faixa de Gaza após novas ordens de evacuação do Exército de Israel, desta vez incluindo Deir al-Balah, no centro do território, que vinha a ser o local onde se concentraram mais pessoas deslocadas e também as operações das agências da ONU.

Enquanto isso, vários ataques israelitas mataram pelo menos 18 pessoas em vários locais da Faixa de Gaza. Morreram já mais de 40.400 pessoas na guerra, de acordo com os dados do Ministério da Saúde do território.

Em relação às ordens de evacuação, um responsável da ONU afirmou nesta terça-feira que a agência teve de parar as suas operações devido a uma nova ordem, mas foi mais tarde clarificado que o que foi afectado foi o movimento entre Deir al-Balah e outros locais e que continuava a ser possível dar algum apoio às equipas já nos locais em que prestam a ajuda.

O Programa Alimentar Mundial avisou, no entanto, que os centros de distribuição de alimentos e cozinhas comunitárias em Gaza estão a ser cada vez mais afectados por estas ordens, que deixam o espaço para operar cada vez mais reduzido (e não é garantido que quem esteja nas zonas declaradas seguras esteja realmente em segurança: já houve vários ataques que atingiram estas zonas).

O gabinete das Nações Unidas para Assuntos Humanitários (OCHA) disse que “as recolocações decorreram com pouco tempo de aviso e em condições perigosas”, e que “puseram efectivamente em risco todo um hub [centro] humanitário que foi criado em Deir al Balah a seguir à sua saída de Rafah em Maio”, que ocorreu também após ordens de evacuação de Israel.

Estas ordens estão a fazer com que as “zonas humanitárias” diminuam cada vez mais, deixando as pessoas ainda mais apinhadas, com maior dificuldade de acesso a comida e água, o que contribui, ainda mais, para a propagação de doenças. A agência Reuters diz que, nos últimos dias, as forças israelitas emitiram várias ordens de evacuação em todo o território da Faixa de Gaza, o maior número desde o início da guerra a 7 de Outubro.

O jornalista da Al-Jazeera Hani Mahmoud diz que Agosto foi o mês com as maiores ordens de evacuação, incluindo uma nova que está em vigor desde a parte sul de Khan Younis até à parte central do território, incluindo Deir el- Balah (até agora, a cidade mais poupada em termos de incursões israelitas).

Grande parte da população deslocada já mudou de lugar várias vezes. “Num caso, uma família foi deslocada pela décima vez”, contou Mahmoud.

As dificuldades de movimentação no terreno estão ainda a impedir uma campanha de imunização contra a poliomielite, doença altamente transmissível que é uma das mais recentes ameaças em Gaza, com amostras detectadas em águas residuais e um caso de infecção e de doença, confirmado, de um bebé com paralisia parcial de uma perna, o primeiro caso dos últimos 25 anos.

A ONU diz que há cerca de 50 mil crianças – que nasceram pouco antes do início da guerra a 7 de Outubro ou desde então – que não foram vacinadas.

As agências da ONU e o secretário-geral, António Guterres, têm feito pedidos de pelo menos tréguas de uma semana para levar a cabo uma campanha de vacinação.

A OMS (Organização Mundial de Saúde) e a UNRWA, a agência que apoia a população palestiniana refugiada, anunciaram que iriam levar a cabo uma campanha de imunização contra a pólio em fim de Agosto ou início de Setembro, mas este é um desafio imenso fazê-lo numa zona de guerra, com restrições de movimento das equipas por um lado, e com pessoas a movimentar-se por outro, e ainda com a necessidade de conservar a vacina em frio até ao momento da toma.

Potencial escalada

Enquanto isto, mantêm-se as negociações para um potencial cessar-fogo que parecem estar num impasse quanto ao controlo de dois corredores essenciais em Gaza, um entre o Norte e o Sul do território e outro entre o território e o Egipto.

Se estas negociações eram vistas como essenciais para o tratamento de uma potencial guerra regional com Irão e Hezbollah, determinados a responder ao assassínio, por Israel, de um comandante do Hezbollah no Líbano e do líder do Hamas em Teerão, a maior escalada entre Israel e Hezbollah, de domingo, foi vista como um potencial ponto alto a que se poderá seguir o “normal” – que é já de conflito bastante aceso (morreram já, pelo menos, 131 civis e 430 membros do Hezbollah no Líbano, e em Israel e nos montes Golã, que o Estado hebraico anexou à Síria, morreram 26 civis e 23 soldados).

O general C.Q. Brown, chefe do Estado-Maior Interarmas do Exército dos EUA, disse que o risco diminuiu um pouco desde domingo, mas contrapôs que o Irão continua a representar um perigo significativo. “Havia duas coisas que sabíamos que iam acontecer. Uma já aconteceu. Agora, depende de como a segunda se vai desenrolar”, disse Brown à agência Reuters. “O modo como o Irão vai responder ditará a resposta de Israel, o que ditará se vai haver ou não um conflito mais alargado”, afirmou.