Médicos no SNS: não basta querê-los, é preciso atraí-los

É essa a mensagem que os médicos têm tentado passar nos últimos dias para que não se pense que é suficiente aumentar as vagas em medicina para haver mais médicos disponíveis para o SNS.

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Desde que o primeiro-ministro anunciou, na histórica festa partidária do Pontal, que o Governo tudo fará para preencher o mapa de Portugal com medicina "em Trás-os-Montes e Évora”, para com isso “formar mais médicos” e “espalhá-los pelo território”, recomeçou a discussão sobre se o problema é realmente a falta de médicos.

O bastonário da Ordem dos Médicos diz que eles não faltam em Portugal, que o país forma profissionais suficientes até para exportação (como no caso dos dentistas, aliás), mas faltam, isso sim, no Serviço Nacional de Saúde. O que acontece é que eles não querem estar no SNS. Não é atractivo. Não paga bem (a menos que sejam tarefeiros). Não tem bons horários. Adapta-se muito lentamente à evolução. Espalha-se pelo interior mais longínquo do país. E ainda vai navegando ao sabor da estratégia de cada novo governo, ministro ou (agora) director executivo.

Perante isto, a realidade paralela que é o sector privado parece um sonho. Paga melhor (dizem), tem horários mais compatíveis com a vida familiar (nem todos os hospitais ou clínicas do privado têm urgências nocturnas, por exemplo), não lida com casos tão complicados (há patologias que normalmente só são tratadas no público) e, regra geral, situa-se em centros urbanos e acomoda-se em instalações invejáveis.

Se não houvesse um nível de atractividade tão desequilibrado entre o público e o privado, com o segundo a ganhar ao primeiro, não haveria tantos problemas na gestão das equipas. Aliás, esse desequilíbrio é depois replicado entre o privado em Portugal e o privado no estrangeiro, com vantagens para o segundo, o que faz com que alguns profissionais de saúde emigrem.

É essa a mensagem que os médicos têm tentado passar nos últimos dias para que não se pense que é suficiente aumentar as vagas em Medicina para haver mais médicos disponíveis para o SNS.

Também houve quem se dedicasse a fazer as contas para demonstrar que, como se não bastasse o tempo que demora a aprovação dos cursos de Medicina, é preciso ter em conta que um médico demora uma década a formar-se e, portanto, a solução de abrir mais faculdades da especialidade nunca seria uma solução para dar frutos no curto prazo.

O que é preciso reter do debate que se instalou nos últimos dias é que, para haver médicos suficientes no SNS, já não basta querê-los ou apelar ao seu espírito de missão​, é preciso atraí-los. Ainda vamos a tempo de fazer a pergunta óbvia (para lhe dar a resposta adequada): o que querem os médicos para exercer a sua digna profissão no SNS?

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