Fukuyama subscreve carta aberta contra “fraude maciça” nas eleições da Venezuela

Académicos e especialistas em processos eleitorais publicam documento em que validam os processos paralelos de apuramento dos votos e exigem uma “transição pacífica e democrática” no poder.

Foto
Os resultados das eleições na Venezuela continuam a ser contestado também a nível internacional Cristina Sille / REUTERS
Ouça este artigo
00:00
03:19

Duas dezenas de académicos de renome mundial, especialistas em democracia e processos eleitorais, publicaram uma carta aberta considerando haver dados suficientes para afirmar que houve uma “fraude maciça” nas eleições presidenciais da Venezuela e a apelar à comunidade internacional para que reconheça a vitória de Edmundo González.

“À medida que os relatórios independentes comprovam a vitória de Edmundo González, a comunidade internacional deve estar ao lado do povo da Venezuela e fazer tudo o que estiver ao seu alcance para ajudar a promover uma transição pacífica e democrática”, lê-se na carta, publicada esta quarta-feira no Financial Times e divulgada em site próprio na internet.

Entre os subscritores estão professores e investigadores reconhecidos como o filósofo e economista político Francis Fukuyama, o activista de Hong Kong Simon Cheng, Laura Gamboa (Universidade de Notre Dame, França), Maria Hermína Tavares, professora emérita da Universidade de São Paulo (Brasil), Alberto Diaz-Cayeros (Universidade de Stanford, EUA) ou Steven Levitsky (Universidade de Harvard, EUA).

Esta carta aberta vem juntar-se ao coro de protestos internacionais contra a falta de transparência no processo eleitoral. “Os resultados oficiais declararam Nicolás Maduro como vencedor, mas as autoridades eleitorais não divulgaram dados pormenorizados sobre a votação, enquanto os observadores independentes e as projecções independentes credíveis contam uma história muito diferente, indicando uma fraude maciça”, escrevem.

Os subscritores exigem “total transparência e responsabilidade na contagem dos votos”, um apelo que ecoa as exigências feitas por actores internacionais como a Organização dos Estados Americanos (OEA) e o Centro Carter, bem como por numerosos países líderes na região, como a Colômbia, o Brasil e o México.

A carta explica também os detalhes do apuramento paralelo de votos feito através de uma rede de “comanditos” que, distribuídos nas cerca de 30.000 mesas de voto, conseguiram obter mais de 24 mil actas eleitorais que depois foram analisados detalhadamente por académicos de renome internacional. Trata-se da iniciativa AltaVista Parallel Vote Tabulation (PVT), e segundo essa análise o candidato da oposição Edmundo González obteve mais de 66% dos votos, enquanto Maduro conseguiu apenas 31%.

Os resultados do Altavista PVT estão alinhados com os resultados da Edison Research, que entrevistou 6.846 eleitores em 100 locais de votação e também com as contagens de votos analisadas pela Associated Press e pelo Washington Post e contrastam fortemente com o anúncio oficial do Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela, que afirmou que Maduro ganhou com 51% contra 44% de González.

“Enquanto académicos dedicados ao estudo da democracia e da integridade das eleições, estamos profundamente preocupados com as implicações para o futuro da Venezuela e com a violência e repressão generalizadas no rescaldo das eleições. Condenamos a resposta brutal das forças de segurança, que resultou em numerosas mortes e centenas de detenções. Exigimos total transparência e responsabilidade na contagem dos votos”, acrescentam.

De acordo com o próprio Presidente Nicolás Maduro, são já mais de 2200 os detidos pelo regime na sequência dos protestos contra os resultados oficiais que lhe dão a reeleição, apesar de as actas oficiais ainda não terem sido publicadas pelo Conselho Nacional Eleitoral. Segundo organizações de defesa dos direitos humanos, entre os detidos contam-se uma centena de menores e 13 jornalistas, havendo relatos credíveis de 23 mortes entre os manifestantes e um polícia.

Sugerir correcção
Ler 10 comentários