Uma velocista deixou uma mensagem aos taliban em nome das mulheres no Afeganistão: “Educação. Desporto. Os nossos direitos”

Kimia Yousofi pediu ao mundo para não desistir dos direitos das mulheres que o regime taliban proíbe. “Educação. Desporto. Os nossos direitos”, mostrou num papel nos 100 metros femininos.

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Kimia Yousofi na provados 100 metros femininos dos Jogos Olímpicos Alina Smutko/Reuters
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A atleta afegã representa o país desde 2016 Phil Noble/Reuters
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O regime taliban só reconhece a participação dos atletas masculinos Phil Noble/Reuters
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Kimia Yousofi estava a correr nos 100 metros femininos dos Jogos Olímpicos, mas o principal objectivo não era ganhar uma medalha, era passar uma mensagem. A velocista ficou em último lugar na prova que se realizou na sexta-feira, 2 de Agosto, no Stade de France, em Saint-Denis, Paris. No final, deixou uma mensagem ao regime taliban sobre os direitos das mulheres no Afeganistão.

“Educação. Desporto. Os nossos direitos”, escreveu, nas cores da bandeira do Afeganistão, no verso do papel que trazia colado à camisola.

"Estou a lutar por uma terra ocupada por terroristas. Eles tiraram-me o meu país. Ninguém no Afeganistão os reconhece como Governo. Ninguém. As pessoas não podem falar. Eu posso", declarou no final da corrida, citada pela CNN.

Kimia Yousofi não vive no Afeganistão. Segundo o perfil da atleta no site dos Jogos Olímpicos, os pais refugiaram-se no Irão nos anos 1990, durante o anterior regime dos taliban no Afeganistão. A velocista, de 28 anos, nasceu no país vizinho e só regressou ao Afeganistão em 2016 para representar o país nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.

Voltou para o Irão em 2020, meses antes de o grupo extremista ter retomado o controlo político do Afeganistão, em Agosto de 2021. Por defender os direitos das mulheres afegãs vive desde 2022 como refugiada em Sydney, na Austrália, com a mãe e um dos dois irmãos.

Neste momento, é a única atleta feminina a representar o Afeganistão nas provas olímpicas de atletismo em Paris. A equipa da qual faz parte é composta por três homens e mais duas mulheres que competem em modalidades como ciclismo ou judo.

Os seis atletas foram escolhidos pelo Comité Olímpico Internacional (COI) e pelo Comité Olímpico Afegão, mas o regime taliban só reconhece a participação dos três atletas masculinos. O COI esclarece ainda que os desportistas estão a competir com as cores da bandeira do Afeganistão: preto, verde e vermelho e que nas provas será reproduzido o hino original do país antes de o grupo fundamentalista islâmico ocupar Cabul.

O comité proibiu ainda a presença das autoridades taliban nos Jogos Olímpicos de Paris.

De acordo com um relatório das Nações Unidas (ONU) de 2023, o regime taliban transformou o Afeganistão no país mais repressivo do mundo para as mulheres. O grupo islâmico obriga as mulheres a cobrirem o rosto com hijab (véu islâmico), proibiu-as de trabalharem, de frequentarem a universidade, de viajarem sem a presença de um tutor masculino, de usarem maquilhagem e de frequentaram espaços públicos como jardins ou parques de diversões. Também encerrou todas as escolas secundárias no país.

“Acho que a Kimia é uma inspiração para as mulheres e para a humanidade por ter a coragem de ter uma voz e falar e tomar uma posição quando as consequências disso podem ser catastróficas. Para algumas pessoas, trata-se de ganhar ouro, prata, bronze, para outras, trata-se de marcar uma posição”, afirmou à CNN John Quinn, treinador da atleta.

Em declarações ao Guardian, a atleta explicou que, além dos taliban, a mensagem destina-se também às raparigas afegãs. “Não desistam, não deixem que os outros decidam por vocês. Procurem oportunidades e usem-nas, apelou.

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