“Custe o que custar”, Puigdemont vai voltar e tentar impedir um governo catalão socialista

Desta vez, promete o ex-presidente catalão, não haverá recuo e o regresso está mesmo iminente. A confirmar-se, o líder independentista será certamente detido.

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Puigdemont saiu da Catalunha em 2017, logo depois do referendo e da declaração de independência Nacho Doce/Reuters
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Face às próximas semanas, que descreve como “decisivas” e “críticas” para a Catalunha, Carles Puigdemont reafirmou o seu compromisso de regressar. “A minha obrigação é estar no Parlamento se houver debate de investidura. Vou estar lá”, prometeu num discurso perante 1500 aliados e apoiantes em Amélie-les-Bains, no Sul de França, a meras duas horas de carro de Barcelona. “Estarei no parlamento, president. Só um golpe de Estado me poderá impedir”, repetiu, dirigindo-se ao presidente do parlamento catalão, Josep Rull.

“Prometi fazê-lo e fá-lo-ei, ninguém me poderá impedir”, insistiu ainda. “Não haverá mais campanhas eleitorais no exílio. O exílio tem de acabar”, afirmou.

O debate em que um candidato a presidir à Generalitat (governo catalão) vai apresentar o seu programa e pedir o apoio dos deputados está previsto para a segunda semana de Agosto. Para além da data, o que mais pressiona Puigdemont é a vontade de impedir um pacto entre o Partido Socialista Catalão (PSC), de Salvador Illa, e a Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), que permita a Illa chegar à presidência.

Quando anunciou que seria o candidato do Junts nas eleições de Maio, o ex-presidente catalão comprometeu-se a estar de regresso para o debate de investidura – sete anos depois de ter sido deposto pelo Governo espanhol então, liderado pelo PP, e de ter fugido para a Bélgica para evitar a prisão e o julgamento.

Claro que o president deposto esperava que o escrutínio fizesse dele o mais bem posicionado para tentar a confirmação. Em vez disso, venceram os socialistas – e com uma vitória claríssima, somando, pela primeira vez, mais votos e mais deputados. O Junts, de Puigdemont, ficou em segundo, com menos sete deputados, mas ele insiste que tem “opções para se apresentar à investidura” e reunir “uma maioria coerente, não absoluta, e mais ampla do que aquela que o candidato socialista pode somar”.

Na verdade, o líder que ainda é tratado dentro do seu partido como “presidente legítimo”, só poderia ser investido com a abstenção dos deputados socialistas, um cenário que estes não admitem.

Incoerente é, na sua opinião, uma aliança entre o PSC e a ERC. Os republicanos que se aliaram à direita nacionalista quando sonharam que a Catalunha poderia ser um país, sofreram um debacle e passaram de primeira para terceira força. Entre revoltas internas contra a liderança histórica, o partido aceitou negociar com o PSC, mas faz depender um eventual apoio a Illa de um novo pacto de financiamento para a Catalunha, que inclua a soberania fiscal.

Apesar da complexidade da tarefa – com o PSOE a ter de equilibrar as exigências dos catalães e as muitas reticências de socialistas de outras regiões –, a verdade é que as conversações parecem ter dado alguns passos. Se assim não fosse, notaram vários analistas, Pedro Sánchez não teria estado esta semana em Barcelona, onde foi recebido pelo ainda presidente da Generalitat, Pere Aragonès.

PSC "espanholista"

No evento que se comemorava os quatro anos da fundação do Junts, Puigdemont sublinhou o risco real de um governo catalão presidido pela versão mais espanholista do PSC”, que, defende, é a versão personificada por Illa. O regresso, escreveu no diário El País o jornalista Jesús García Bueno, “é o seu maior trunfo para travar o pacto entre ERC e PSC”, apelando, nomeadamente, aos militantes republicanos, que terão de aprovar qualquer acordo.

Aconteceram mais coisas desde que Puigdemont prometeu regressar. Na altura, a lei que amnistia todos crimes relacionados com o referendo ilegal sobre a independência da região autonómica estava prestes a ser aprovada. Agora, já entrou e vigor. Só que, entretanto, o Supremo Tribunal considerou que os crimes de desvio de fundos de que é acusado (com outros dirigentes) não estão abrangidos pela lei negociada entre Pedro Sánchez e os partidos soberanistas. E a ordem de detenção em seu nome continua válida.

Detê-lo, no regresso, seria “ilegal e arbitrário”, pelo que constituiria um “golpe de Estado” dos juízes, afirmou no encontro em França. A lei da amnistia prevê que as ordens de detenção sejam suspensas e assim continuem durante eventuais recursos. O problema é que isso só vale se um tribunal estiver a deliberar sobre a aplicação da lei – no seu caso, a aplicação foi simplesmente recusada pelo juiz de instrução.

Agradecendo as manifestações de preocupação, Puigdemont disse este não é o momento para “lamentar ou chorar”; o importante, pediu, é carregar energia e “capacidade de resposta” a uma eventual detenção. Ficou por dizer que resposta será essa, assim como o dia do regresso, depois de se ter especulado que poderia ter acontecido precisamente este sábado, aproveitando a presença de muitos apoiantes.

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