Catalunha: Sánchez oferece acordo de financiamento em troca de apoio aos socialistas

Com as negociações para a formação do novo governo catalão à beira de começar, presidente do Governo sugere disponibilidade para negociar uma das exigências da ERC. Puigdemont acusa-o de “chantagem”.

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Sánchez quer garantir que o candidato socialista forma governo na Catalunha MICHAEL BUHOLZER / VIA REUTERS
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Mais de um mês depois das eleições catalãs, e uma semana desde que os eleitos para o parlamento autonómico tomaram posse, na semana passada, o novo presidente do Parlament, Josep Rull, inicia esta terça-feira os contactos com os partidos para avaliar os apoios que reúnem e as possibilidades de formarem governo e assumirem a presidência da Generalitat. Para além do vencedor das eleições, o socialista Salvador Illa, também o ex-presidente Carles Puigdemont é candidato ao cargo que já foi seu – embora seja bastante improvável que o recupere.

Nem Illa nem Puigdemont (candidato do seu partido, Junts, o mesmo de Rull) podem governar sozinhos. Mas entre as várias maiorias possíveis que se vislumbravam antes das eleições, os votos dos catalães só permitem uma, à esquerda, formada pela soma dos 42 deputados do PSC com os 20 da Esquerda Republicana da Catalunha (ERC) e os seis dos Comuns (conjunto de vários movimentos de esquerda). Com o fim da maioria do bloco independentista, Puigdemont precisaria tanto do apoio da ERC como de uma abstenção do PSC para ser investido.

Esta segunda-feira, o político que fugiu de Espanha após declarar a independência da Catalunha, em 2017, acusou Pedro Sánchez de “chantagem” por ter defendido como “viável” um “financiamento singular” para a Catalunha, exigido pela ERC. No caminho para levar Illa ao Palácio situado na Praça de Sant Jaume, no Bairro Gótico de Barcelona, o primeiro-ministro está disponível para negociar “um financiamento singular para um território tão importante como a Catalunha", que considera “compatível” com a já prevista melhoria geral do financiamento das autonomias, afirmou numa entrevista ao jornal catalão La Vanguardia, este domingo.

“Acredita que o financiamento que nós, catalães, merecemos, depende de o candidato do seu partido ser eleito presidente?”, questionou Puigdemont na rede X (antigo Twitter). “Não pensa que, com a sua chantagem, está a dar argumentos aos espanhóis que pensam que nós, catalães, exigem um tratamento que não merecemos?”, continua.

Descrevendo a oferta de um financiamento próprio em troca do apoio a “um governo liderado pelo seu candidato” como “um escândalo em todos os sentidos”, o dirigente que continua a viver na Bélgica exige a Sánchez que responda a estas e a outras “perguntas se pretende contar com o apoio que lhe permitiu liderar o Governo espanhol, apesar da sua derrota nas urnas”, o ano passado.

O PSOE tem repetido que é em Barcelona que se define o futuro da Catalunha, mas sabe que as negociações em busca de apoios para Illa podem tornar ainda mais difícil a governação nacional, com Sánchez a precisar do apoio parlamentar dos dois principais partidos independentistas catalães para se manter no poder. E a entrevista ao La Vanguardia mostrou que o Presidente do Governo espanhol está disposto a envolver-se para assegurar que Illa chega à Generalitat – a alternativa, que se tornará inevitável se o novo presidente catalão não estiver escolhido até 25 de Agosto, é uma repetição eleitoral catalã que desestabilizaria ainda mais a legislatura.

Raquel Sans, porta-voz da ERC, lembrou que quando o seu partido fala de financiamento único está a falar de soberania fiscal para a Catalunha, que passaria a gerir 100% dos impostos dos catalães (actualmente, gere 9%). “Vimos este fim-de-semana as manobras de Pedro Sánchez para tentar baralhar as coisas”, afirmou, explicando que o objectivo é um modelo fora do sistema comum regulado pela Lei Orgânica de Financiamento das Comunidades Autónomas (e semelhante ao modelo basco).

Encorajando tanto o PSC como o Junts a tentarem a investidura e a apresentarem os seus programas, Sans lembrou que os objectivos dos republicanos nas negociações que os poderão levar a apoiar o futuro governo incluem o referendo sobre a independência, o financiamento único e o reforço dos serviços públicos. Depois de ter sofrido uma dura derrota, passando de 21,3% para 13,7% dos votos, a ERC, que lidera o governo ainda em funções, tem insistido que a chave do próximo governo está nas mãos do PSC e do Junts, apesar de o seu apoio ser indispensável a ambos.

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