Desertor norte-coreano nomeado vice-ministro no Governo da Coreia do Sul

Tae Yong-ho, antigo diplomata da Coreia do Norte, é o novo secretário-geral do Conselho para a Unificação Pacífica. É o mais alto cargo político sul-coreano ocupado por um desertor norte-coreano.

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Mais de 34 mil norte-coreanos conseguiram cruzar as fronteiras altamente vigiadas na Coreia do Norte e chegar à vizinha Coreia do Sul Yuriko Nakao
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Tae Yong-ho, antigo “número dois” da embaixada da República Popular Democrática da Coreia (Coreia do Norte) no Reino Unido, que fugiu para a República da Coreia (Coreia do Sul) em 2016, foi nomeado vice-ministro no Governo sul-coreano na quinta-feira, tornando-se o primeiro desertor norte-coreano a alcançar um cargo político tão elevado no vizinho e rival histórico do país de Kim Jong-un.

O Presidente da Coreia do Sul, o conservador Yoon Suk-yeol, escolheu Tae para o posto de secretário-geral do Conselho Consultivo para a Unificação Pacífica, um órgão político responsável por aconselhar o chefe de Estado sobre matérias relacionadas com o objectivo da reunificação da península da Coreia.

Governadas de forma autónoma e sob regimes totalmente diferentes – a Coreia do Norte é uma ditadura de inspiração comunista-dinástica e a Coreia do Sul é uma democracia liberal –, as duas Coreias estão tecnicamente em guerra, uma vez que o acordo de armistício que suspendeu as hostilidades na Guerra da Coreia (1950-1953) não foi acompanhado por um tratado de paz.

“[Tae Yong-ho] é a pessoa certa para ajudar a estabelecer uma política de unificação pacífica baseada na democracia liberal e para angariar apoios internos e no estrangeiro”, explicou o gabinete da presidência sul-coreana, num comunicado citado pela BBC, que realça o facto de Tae poder valer-se da experiência de ter vivido nos dois países para demonstrar que a fuga para a Coreia do Sul foi uma excelente opção de vida.

A nomeação de Tae surge poucos dias depois da relevação de outra deserção de um alto quadro da representação diplomática do regime de Kim Jong-un no estrangeiro. Entrevistado pelo jornal sul-coreano Chosun Ilbo, o responsável pelos assuntos políticos na embaixada da Coreia do Norte em Cuba, Ri Il-kyu, disse ter fugido para a Coreia do Sul em Novembro do ano passado.

Actualmente com 62 anos, Tae Yong-ho nasceu em Pyongyang e entrou no Ministério dos Negócios Estrangeiros da República Popular Democrática da Coreia aos 27, tendo trabalhado para as três gerações da família que governa o país com mão de ferro desde 1948: Kim Il-sung, Kim Jong-il e Kim Jong-un.

Em 2016, conseguiu fugir para a Coreia do Sul, tendo justificado a decisão com o “desespero” que sentia, com facto de não querer que os seus filhos tivessem “vidas miseráveis” na Coreia do Norte e, segundo a Associated Press, com o receio que tinha da política de execuções sumárias e das ambições nucleares de Kim e do seu regime.

Quando desertou, Pyongyang acusou-o de diversos crimes, incluindo desvio de fundos públicos, e descreveu-o como “escumalha humana”.

Desertor, deputado e vice-ministro

Já na Coreia do Sul, Tae aderiu ao Partido do Poder Popular (PPP, centro-direita), tendo sido eleito deputado para a Assembleia Nacional nas legislativas de 2020. Nas últimas eleições, realizadas em Abril deste ano e vencidas pelo Partido Democrático (PD, centro-esquerda), foi, no entanto, um dos parlamentares do partido conservador que perdeu o lugar.

O novo vice-ministro é um dos cerca de 34 mil desertores norte-coreanos que, de acordo com os dados do Ministério da Unificação de Seul, se estabeleceram na Coreia do Sul.

A grande maioria chegou ao país na sequência da Grande Fome que afectou a Coreia do Norte nos anos 1990 – que matou entre centenas de milhares e dois a três milhões de pessoas, consoante quem fez a contabilização dos mortos –, principalmente através da fronteira com a República Popular da China, na região norte do território, onde estão as cidades norte-coreanas mais pobres. O Ministério da Unificação diz, ainda assim, que o número de dissidentes pertencentes à elite de Pyongyang tem vindo a aumentar nos últimos anos.

Mesmo recebendo apoios do Estado sul-coreano – nomeadamente nacionalidade, habitação a baixo custo e dinheiro –, muitos desertores são alvo de discriminação na Coreia do Sul e passam por enormes dificuldades no processo de adaptação à vida e à economia de mercado sul-coreana, pelo que são poucos os que chegam a cargos tão importantes como aquele que Tae Yong-ho agora assume.

Depois da (tentativa de) aproximação à Coreia do Norte da presidência anterior, de Moon Jae-in (do PD), que foi acompanhada por encontros inéditos entre Kim Jong-un e o ex-Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o Presidente Yoon Suk-yeol implementou uma abordagem mais dura e menos cooperante com a Coreia do Norte quando assumiu o cargo em 2022.

No passado domingo, por proposta do seu Governo, foi celebrado pela primeira vez o Dia dos Desertores Norte-Coreanos, que será, a partir de agora, comemorado todos os anos a 14 de Julho na Coreia do Sul.

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