Nível de narcisismo diminui ao longo da vida, mas pouco, sugere estudo

Os resultados também indicaram que a estabilidade do tipo de narcisismo é elevada, mesmo em períodos longos, o que apoia a teoria de que o narcisismo deve ser considerado um traço de personalidade.

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O narcisista agêntico revela uma concentração egocêntrica nas realizações pessoais, no sucesso e no domínio nas interacções sociais Vince Fleming/Unsplash
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A perturbação narcísica da personalidade integrou o Manual de Diagnóstico e Estatística das Doenças Mentais, da Associação Americana de Psiquiatria, em 1980, fazendo parte ainda da Classificação Internacional de Doenças, da Organização Mundial da Saúde, no capítulo dos transtornos mentais. No entanto, desde o início que há quem defenda que o narcisismo é um traço de personalidade, algo que um novo estudo, publicado no número de Junho do Psychological Bulletin, parece reforçar, ao sublinhar o facto de a estabilidade do tipo de narcisismo ser elevada, mesmo em períodos longos.

A revisão meta analítica dos dados longitudinais de 51 amostras teve por base a classificação do narcisista em agêntico (concentração egocêntrica nas realizações pessoais, no sucesso e no domínio nas interacções sociais), antagónico (necessidade imperiosa de ser “melhor” do que os outros, não se coibindo de mentir, enganar, iludir ou rebaixar para parecer dominante) e neurótico (propensão para a vergonha, sensibilidade excessiva e emotividade negativa à crítica e à repreensão, e necessidade excessiva de admiração para manter a auto-estima).

E concluiu que as diferenças individuais no narcisismo tendem a ser “moderadamente (neurótico) a altamente (agêntico, antagónico) estáveis, mesmo em períodos muito longos”, o que resulta na conclusão de que o narcisismo, quer seja agêntico, antagónico ou neurótico, “deve ser considerado um traço de personalidade”.

No entanto, também observaram que qualquer tipo de narcisismo apresenta um “declínio normativo” ao longo da vida, sendo que “as alterações agregadas desde a infância até à velhice foram de pequena a média dimensão”.

As conclusões parecem reforçar as perspectivas de que, por um lado, “os indivíduos investem nos papéis sociais que assumem e que a personalidade das pessoas se desenvolve na direcção de características que as ajudam a funcionar bem nesses papéis” — o que não acontecerá com o narcisismo — e, por outro, “à medida que as pessoas envelhecem, mudam o seu foco da aquisição de novos recursos pessoais e da vontade de enfrentar desafios emocionais para a protecção da estabilidade emocional e de relações pessoais próximas”.

E, salienta-se, em “vários estudos transversais [que] testaram as diferenças de idade no narcisismo”, sugere-se “que os adultos mais velhos apresentam níveis mais baixos de narcisismo em comparação com os adultos mais jovens e os adolescentes”.

O estudo actual ressalva o facto de se poder estar diante somente de níveis de narcisismo diferentes (não foi o mesmo indivíduo a ser testado em várias idades), mas não deixa de sinalizar que esta sugestão pode justificar um estudo mais aprofundado. Até porque, destaca-se, “níveis elevados de narcisismo influenciam a vida das pessoas de muitas formas, tanto a vida dos próprios indivíduos narcisistas como, talvez ainda mais, a vida das pessoas com quem se cruzam”.

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