“Quando estou com fome não sou nada fácil de aturar”
Jorge Batista da Silva, bastonário da Ordem dos Notários, confessa que gostaria “de ser menos preguiçoso” e, sobre conselhos para uma relação amorosa, sugere “às vezes fingir que não ouvimos.”
Que rede social mais usa? Já desistiu de alguma e porquê?
O Twitter é a rede social que mais utilizo e à qual me recuso a chamar X. Desisti da BlueSky porque nunca conseguiu substituir o Twitter.
Já se arrependeu de alguma coisa que escreveu numa rede social? O quê?
Tudo o que escrevi sobre futebol. Mesmo quando nos achamos moderados, acabamos por nos exceder. Arrependi-me.
Tem a noção de quantos ex-amigos tem? Cinco? Dez? Ou nunca se zangou com um amigo?
Amigos com letra grande tenho poucos, julgo que é assim com toda a gente. Com eles nunca me zanguei. Pelo caminho ficaram duas ou três pessoas que podiam ter sido Amigos, mas que por uma ou outra razão nunca chegaram a ser. Ficaram para trás.
Qual é o elogio que menos gosta que lhe façam?
Não gosto que elogiem a minha "omnipresença " porque significa que estou a falhar na delegação de funções.
Se pudesse viver no cenário de um romance literário, qual escolheria?
Grandes Esperanças, de Charles Dickens. Gosto da época vitoriana pelo que representa – a possibilidade de ascensão económica da classe média através do trabalho e da inovação; o acesso à cultura; a ciência… Viver neste mundo novo e poder lutar contra as desigualdades da revolução industrial será sempre um bom cenário para um romance.
Fora de Portugal, qual é o lugar onde se sente em casa? E porquê?
No Brasil, em Cabo Verde e nos restantes países da CPLP. Quando nos sentamos à mesma mesa e conversamos é impossível não sentir que fazemos todos parte de uma enorme comunidade. Existe uma ligação muito forte que vai muito além da língua que partilhamos.
Qual o melhor conselho que lhe deram na vida?
Nunca desistir dos meus objectivos. Podemos desistir de alguns sonhos, mas nunca devemos desistir dos objectivos. Para isso, não nos podemos autolimitar ou deixar condicionar pelos outros.
Em que situações se considera um “chato”?
Não suporto quando falham com a palavra sem uma justificação plausível. Mais do que chato torno-me insuportável. Quando estou com fome também não sou nada fácil de aturar.
Tem algum vício que gostaria de não ter? E um de que se orgulhe?
Gostaria de ser menos preguiçoso. No entanto, faço um esforço e orgulho-me de trabalhar mais do que devia, mesmo quando estou de férias.
Diga o nome de três portugueses vivos que admira (não vale a sua mãe nem o seu pai).
No Direito, Gomes Canotilho porque abriu a porta para um pensamento politicamente bem arrumado na nossa Constituição (mesmo não concordando com ele aqui e além). Na música, devo a Rodrigo Leão o facto de não fazer terapia. Na política, Ramalho Eanes, pois nunca perdeu o sentido de Estado, nem a capacidade de defender o interesse público.
Já teve algum ataque de ansiedade? Em que circunstâncias?
Nunca. Trabalho muito para evitar que os problemas escalem para níveis de stress insuportáveis.
E já se sentiu profundamente exausto? Foi burnout?
Todos nós já sentimos o peso do mundo às costas, em algum momento da nossa vida. Temos de aliviar a carga. Devemos isso a nós próprios, para não sermos esmagados por um burnout.
Se lhe pedissem conselhos para uma relação amorosa feliz, o que é que dizia?
Ouvir sempre atentamente e às vezes fingir que não ouvimos.
É vegetariano, vegan, faz alguma dieta especial? Porquê?
Como bom poveiro, gosto muito de peixe. Como peixe sempre que posso.
Qual foi o último filme que viu? E qual foi o último de que gostou?
Dune foi o último filme que vi. Oppenheimer foi, sem dúvida, o filme de que mais gostei.
Qual o seu maior arrependimento?
Não ter viajado mais nos tempos da universidade porque viajar faz parte do nosso processo de crescimento.
Qual foi a última vez em que se surpreendeu?
O regresso do racismo e da xenofobia assumida não me deveria ter surpreendido, mas surpreendeu. A História está cheia de retrocessos, mas nunca pensei que este chegasse tão depressa.